luta socialista

Lula e Trump: equipes iniciarão debates nesta quinta sobre possível reaproximação na ONU

A aproximação inesperada entre Lula e Donald Trump durante a Assembleia Geral da ONU acendeu um debate que mistura diplomacia, cautela e puro teatro político. Enquanto a equipe brasileira já se prepara para abrir conversas formais com os Estados Unidos, o Itamaraty mantém o pé no freio — e com razão. Não se trata de celebrar qualquer elogio de um dirigente cujo histórico é marcado pela imprevisibilidade e pelos acordos com as elites e oligarquias. Aqui, do lado de cá, queremos diálogo que fortaleça a soberania, as estatais e os interesses populares, não apertos de mão para abrir portas a privatizações e à voracidade dos bilionários de direita!

Governo brasileiro adota cautela

Depois dos discursos na ONU, o cenário não evoluiu imediatamente: na quarta-feira não houve contatos oficiais entre as equipes, porque a prioridade de ambos os presidentes era o retorno às capitais. A mobilização diplomática, porém, está programada para começar na quinta-feira, quando as agendas se estabilizarem. Seja por telefone, videoconferência ou um eventual encontro presencial, os passos iniciais serão cuidadosamente negociados.

“Tive uma química excelente com ele, é um cara muito agradável” — Donald Trump, declarou o ex-presidente norte-americano em um discurso que soou mais como ligação de recalque afetiva do que como gesto sólido de política externa. Do lado brasileiro, o próprio Lula comentou o encontro: “Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu” — Luiz Inácio Lula da Silva, acrescentando ainda que “pintou uma química mesmo” — Luiz Inácio Lula da Silva. Esses trechos foram usados por setores da imprensa para inflar expectativas, mas os diplomatas do Itamaraty lembram que gestos e palavras não substituem acordos concretos.

Não podemos permitir que elogios de ocasião sirvam de carta branca para negócios escusos ou retrocessos às velhas receitas neoliberais. O risco é real: uma conversa cordial não apaga as diferenças estruturais entre um governo que se declara movido pelos interesses populares e outro que historicamente se alinha às grandes corporações e aos havens fiscais. Por isso a prudência do Itamaraty é um bom sinal — ao menos por enquanto.

Próximos passos e possíveis pautas

As equipes vão discutir os formatos possíveis do contato — chamada telefônica, videoconferência ou encontro futuro — e alinhar uma pauta inicial que privilegie cooperação prática e que não comprometa os pilares da política externa soberana. Entre os temas mapeados estão economia, comércio e meio ambiente, mas com os olhos bem abertos sobre quem ganha e quem perde com cada proposta.

O governo brasileiro mantém diálogo com o setor privado para preparar temas que possam figurar na mesa, caso a conversa avance. Entre as áreas listadas estão biocombustíveis, regulação das big techs, exportações de carnes e questões ligadas a minerais críticos e terras-raras. Não é por acaso: quem manda nos royalties, nas licenças e nas políticas públicas é quem tem poder econômico — e é justamente a fração da burguesia pró-privatização que a militância socialista aponta como inimiga a ser desmantelada.

O que esperamos de uma reaproximação com os EUA é pragmatismo que favoreça o povo brasileiro, e não acordos que empurrem nossas riquezas para os cofres de bilionários estrangeiros. Isso significa proteger as estatais, garantir controle público sobre recursos estratégicos e condicionar qualquer cooperação a cláusulas que respeitem a soberania nacional e direitos trabalhistas e ambientais.

A cena internacional é sempre palco de improvisos e gestos simbólicos. Mas, para além do espetáculo, precisamos de política externa ancorada em interesses populares e em uma estratégia que fortaleça a capacidade do Brasil de negociar soberanamente. Se houver conversa entre Lula e Trump, que seja para avançar em termos que beneficiem a classe trabalhadora e a proteção do meio ambiente — e não para abrir caminho a mais submissão às agendas do capital transnacional. A vigilância e a mobilização social permanecerão essenciais para que cada passo diplomático signifique avanço real para as maiorias.

Mais notícias para você
30da2f33-41e8-4414-b665-adf9db9ef4bd
Aneel ainda não decidiu sobre renovação da concessão da Enel em São Paulo, alerta diretor

A Aneel ainda não deu o veredito final sobre a renovação da concessão da Enel em São Paulo, mas já...

1d6a48e9-904f-41ed-8ec2-391ea141325f
Alexandre de Moraes libera redes de Carla Zambelli com multa diária por posts de ódio

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de revogar o bloqueio de perfis e canais associados à deputada Carla Zambelli...

f7f7a5e1-5125-4c05-b0ec-c7623e54ef81
Relator alinhado ao bolsonarismo pode definir o destino de Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética

A decisão que afastou Eduardo Bolsonaro da liderança da minoria na Câmara veio envolta em justificativas “técnicas” — exatamente o...