O movimento Bolsonaro se transformou em um espetáculo de vaidades e autoaniquilação: enquanto Jair vive o drama da prisão e do risco à saúde, quem deveria articular saídas políticas parece mais preocupado em inflamar ainda mais o cenário. No centro desse incêndio autoimposto está Eduardo Bolsonaro, que, segundo líderes do próprio campo, foi longe demais nas articulações em Washington, e pode acabar não apenas queimando pontes — pode queimar o próprio tabuleiro que sustentaria a liberdade do pai no Congresso.
A conta é simples e trágica: o bolsonarismo precisa de negociações com o centrão e com setores do Parlamento para alcançar qualquer “saída política”. Mas Eduardo prefere o confronto externo e o jogo com a direita americana — pedindo até mais sanções via Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras — ao diálogo no Congresso. O resultado? um vírus de desentendimento que corrói as possibilidades de acordo e um campo político que se desintegra justamente quando mais precisa de engenharia política. Quem precisava ser estrategista virou incendiário!
O filho que rouba a cena — e os acordos
Integrantes do centrão não falam alto para evitar novas confusões com Jair, mas nos bastidores a crítica é direta: Eduardo está atrapalhando. Há temor real de que suas bravatas inviabilizem medidas concretas no Parlamento, como a proposta para revisar a dosimetria e reduzir penas de quem participou do golpe — um tipo de manobra que, ainda que condenável para quem ama a democracia, seria um passo prático para evitar punições mais longas a aliados. Agora imaginem: o próprio núcleo que deveria costurar acordos se vê diante de um ativismo internacional que não conversa com as necessidades táticas do dia a dia político nacional.
Alguém no clã tentou puxar o freio. Jair teria enviado emissários para tentar conter o filho — sem sucesso. Eduardo teria, segundo relatos, recusado recuar e decidido dobrar a aposta contra autoridades brasileiras, exigindo até uma anistia total. A cena é surreal: um grupo que reclama de “perseguição” assume a postura de quem quer varrer a própria legislação sob o tapete, jogando para o alto a credibilidade política do conjunto.
A consequência imediata é clara: Eduardo pode implodir acordos que ajudariam Jair. E não é exagero; bolsonaristas mais moderados temem justamente isso. Se a família Bolsonaro insiste em uma anistia ampla, geral e irrestrita — que hoje não tem a mínima viabilidade no Congresso —, estarão atirando no próprio pé e enterrando qualquer alternativa que não passe pela radicalização final.
No cercadinho das redes, a turma de bolsonaristas mais beligerante responde com ódio a qualquer sinal de conciliação. O influenciador e empresário Paulo Figueiredo deixou claro seu apoio às investidas de Eduardo e não poupou sarcasmo contra os que criticam: “Se forem chorar, por favor mandem áudio: vai piorar e eles não podem fazer nada” — Paulo Figueiredo. E o próprio Eduardo, todo fogo e nada de projeto, escreveu em X: “é nesse truísmo elementar que estou disposto a ir até as últimas consequências para conseguir a anistia ampla e irrestrita. Será vitória ou vingança, mas não haverá submissão.” — Eduardo Bolsonaro. Palavras que mais parecem um verso de suicídio político coletivo do que uma estratégia racional.
Enquanto isso, a direita se autoretrata: ou se radicaliza com Eduardo e fecha portas no Congresso, ou tenta costurar uma saída pragmática e é acusada de traição pela ala mais fanática. Resultado? Uma direita em guerra consigo mesma, abrindo espaço para o campo popular organizar respostas mais claras e eficazes.
Se o objetivo do bolsonarismo é sobreviver politicamente e evitar punições maiores, está adotando a pior estratégia possível: apostar na aproximação com potências estrangeiras e na espetacularização do conflito. Para nós, que queremos o desmonte das estruturas conservadoras, essa implosão interna deve ser aproveitada politicamente — não para tolerar anistias que neguem a gravidade dos ataques à democracia, mas para reforçar a luta por um projeto popular capaz de fazer justiça sem chantagem. Lula e o PT, por melhor ou pior que sejam vistos por setores radicais, têm agora um papel central para construir alternativas legislativas e políticas que não passem pelas loucuras de um clã em desespero.