O ministro Gilmar Mendes desembarcou em Brasília para o Fórum Saúde acompanhado de um séquito político de peso: o vice-presidente Geraldo Alckmin, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. No meio desse cenário de grandes nomes e holofotes, Mendes tratou de reafirmar a unidade do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação às decisões de Alexandre de Moraes — especialmente a que colocou Jair Bolsonaro em prisão domiciliar.
Sem questionamentos internos
Logo na chegada, o decano do STF tratou de dissipar qualquer boato sobre divergências na Corte. “Não há nenhum desconforto” foi a sentença seca que acabou com as especulações. Segundo Gilmar Mendes, as ações de Moraes têm respaldo sólido entre os ministros. “O ministro Alexandre tem toda a nossa confiança e o nosso apoio”, declarou ele, deixando claro que qualquer tentativa de fingir rachaduras no Supremo é inútil.
Para um tribunal historicamente acusado pela extrema-direita de ser “ativista” ou “politizado”, essa demonstração de coesão soa como uma bofetada em quem tenta deslegitimar o Poder Judiciário quando ele se contrapõe aos interesses golpistas. Não por acaso, Bolsonaro e seu séquito de agitadores têm vociferado contra as decisões de Alexandre de Moraes, alimentando narrativas conspiratórias em redes sociais e sites bolsonaristas.
Brasil versus pressões externas
O tema mais inesperado nessa visita foi o debate sobre “guerras tarifárias” e a suposta interferência dos Estados Unidos no Brasil. Para Gilmar Mendes, disputas econômicas são normais, mas o que não pode ocorrer é a manipulação de tarifas como arma para pressionar mudanças políticas. “Isso significa afetar a soberania dos países. É claramente repudiado e é claramente não aceito por nações maduras, como é o caso do Brasil”, explicou.
Numa tirada que soa quase irônica, o ministro lembrou que seria absurdo o Brasil exigir da Suprema Corte americana mudanças de entendimento para favorecer nossos interesses comerciais. “Certamente seria inadmissível que nós, nas nossas pretensões comerciais, exigíssemos mudanças de entendimento da Suprema Corte americana. Isso seria impensável. Da mesma forma, também isso se aplica ao Brasil”, enfatizou, traçando um paralelo que desmonta discursos de submissão e subserviência.
A ênfase na defesa da soberania nacional ganha contornos ainda mais importantes se considerarmos os pronunciamentos recentes de lideranças de direita que flertam com pautas ultraliberais e privatistas. Enquanto grandes empresários sonham em vender nossas estatais a preço de banana, o STF, segundo Mendes, não aceitará interferências externas nem internas que subvertam o Estado de Direito.
A reafirmação de apoio a Moraes, sobretudo na decisão que determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro, serve como lembrete de que o tribunal não se curva a ameaças nem condescende com quem descumpre medidas cautelares. Ao remeter o ex-presidente para restrição de liberdade, o Supremo deixa claro que ninguém está acima da lei — nem mesmo o gigante midiático e político que Bolsonaro forjou ao longo de anos.
Num momento em que a extrema-direita tenta se recauchutar usando a retórica da “ditadura do STF”, o discurso coeso de Gilmar Mendes ecoa com força: o tribunal é uma instituição autônoma e resistente às intimidações. Isso não basta para resolver todos os problemas do país, mas demonstra que, ao menos no campo jurídico, há quem defenda o Estado brasileiro contra as investidas mais abusivas do bolsonarismo e de seus aliados internacionais.
A atuação firme da Suprema Corte, respaldada pelo decano Gilmar Mendes, pode incomodar nosso inimigo de camisa verde-amarela e boné vermelho, mas é esse tipo de postura que mantém viva a chama da democracia. Se Bolsonaro e seus asseclas esperavam encontrar brechas para solapar a Corte, deram de cara com um muro de coesão. A sociedade precisa ficar atenta: a batalha pela soberania nacional e pelo Estado democrático de direito está longe de terminar, e o STF acaba de mostrar que, mesmo em meio a pressões internas e externas, continuará firme na missão de impedir retrocessos.