Na esteira da escalada golpista que insiste em rondar os corredores do poder, o ex-assessor de Jair Bolsonaro, coronel Marcelo Câmara, foi preso sob a acusação de tentar obter informações sigilosas sobre a delação de Mauro Cid. A medida, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), aponta para um enredo que se repete nas entrelinhas da extrema-direita: manipulação, monitoramento de autoridades e articulações sombrias para manter viva a chama antidemocrática.
O palco da acareação
O pedido de acareação, agendado para a próxima quarta-feira (13), pretende colocar frente a frente Marcelo Câmara e o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro. Prevista na legislação penal, a acareação busca esclarecer contradições nos depoimentos. No caso em questão, a defesa de Câmara levantou três pontos para questionar Cid diretamente:
1. A suposta manipulação de minutas golpistas apresentadas em reuniões de teor antidemocrático no Palácio da Alvorada.
2. O alegado monitoramento contínuo do ministro Alexandre de Moraes e da chapa Lula-Alckmin eleita em 2022.
3. O conhecimento de Marcelo Câmara sobre as motivações desse monitoramento e sua conexão com o “kid preto” Rafael Martins de Oliveira.
Essas acusações não são meras conjecturas: elas se encaixam no quebra-cabeça de um plano para manter Bolsonaro no poder a qualquer custo. É o golpe abortado nas barbas de Brasília, um ensaio de violência institucional que precisa ser desmascarado.
O coronel nega as acusações, mas já se encontra preso sob a suspeita de buscar ilegalmente informações sigilosas. O desenrolar dessa acareação promete tensionar ainda mais o ambiente político, afinal, quem se dispõe a monitorar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes só pode ter interesses inconfessáveis.
O ex-assessor integra o chamado “núcleo 2” da trama que pretendia coletar dados para viabilizar um golpe de Estado. Segundo as investigações, esse grupo ficaria responsável pela coleta de informações que pudessem sustentear medidas extremas. É a corrosão da democracia nas mãos de quem não hesita em tramar contra ela.
Este não é o único embate público entre Marcelo Câmara e aliados de Bolsonaro. Em 24 de junho, Mauro Cid já participou de uma acareação com o general Walter Souza Braga Netto, réu também por tentativa de golpe e ex-candidato a vice na chapa do PL. Na ocasião, Braga Netto tratou Cid como mentiroso, reforçando o clima de negação e disputa interna que ecoa a falência moral da extrema-direita.
O que está em jogo vai muito além do destino de um ex-assessor militar. Trata-se de expor as entranhas de uma rede que, mesmo derrotada nas urnas, não descansa enquanto não encontra brecha para dar mais um golpe. A vigília popular e a pressão institucional se mostram, mais uma vez, essenciais para que a trama seja completamente revelada e responsabilizada.
A luta democrática exige firmeza: não basta afastar Bolsonaro das eleições, é preciso desmontar toda a lógica que autoriza generais e coronéis a conspirar contra a Constituição. A encenação de acareações e depoimentos contraditórios deve servir como lição de que a farsa golpista não se sustenta sem a cumplicidade de quem financia e opera nos bastidores. A hora é de ampliar a mobilização, reforçar a resistência e garantir que, desta vez, a democracia triunfe de verdade.