A Casa do Povo virou picadeiro para uma aliança inesperada: de um lado, bolsonaristas enfurecidos; do outro, deputados de centro e até de esquerda! A gota d’água? A proposta de extinção do foro privilegiado, que não visa o combate à impunidade, mas sim socorrer aqueles que hoje tremem diante de investigações no Supremo. Afinal, quem quer ver Bolsonaro preso e quem teme virar réu no STF se uniram num acordo que beira o teatro de horrores.
O jogo sujo por trás da bandeira do “Fora Foro”
São cerca de 80 parlamentares — quase todos os partidos representados — na mira da Polícia Federal por suspeita de desvio de emendas. Nem a direita nem os golpistas escapam: do centrão ao PT, muitos querem aproveitar o ensejo para empurrar seus processos para a Justiça de primeira instância, onde o calendário judiciário anda mais lento que carruagem emperrada.
Após a vergonhosa ocupação da Mesa da Câmara pelos seguidores do mito, as lideranças do motim anunciaram uma “vitória” comum. O acordo inclui:
– anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023;
– fim do foro privilegiado para deputados e senadores.
Embora a anistia esteja praticamente enterrada antes mesmo de nascer — já que causaria um escândalo internacional e abriria precedente para qualquer miliciano de plantão —, o fim do foro tem enormes chances de prosperar. E tudo isso enquanto se dissimula o real propósito: postergar o julgamento de quem tem dinheiro e influência para protelar processos.
“O fim do foro une quase todo mundo neste momento. A anistia, não. Na semana que vem poderemos observar a evolução do fim do foro e não da anistia”, confidenciou um líder que participou das negociações, em fala gravada sob reserva. A declaração denuncia o pânico generalizado entre deputados que veem a Polícia Federal apertar o cerco a desvios de verbas públicas.
Na prática, se o foro for abolido, as investigações que tramitavam no STF cairão nas mãos de juízes de primeiro grau. E quem conhece o sistema judiciário brasileiro sabe: isso significa anos de recurso, manobra dilatória e chance de escapar impune até o fim do mandato. Fim do foro privilegiado não é panaceia, mas é um passo! — concordam juristas progressistas, que ainda alertam: sem fortalecimento do Ministério Público e sem ampliar a transparência, tudo continuará nas mesmas mãos que hoje respondem por crimes de colarinho branco.
Os bolsonaristas, por sua vez, esperneiam para incluir a anistia ao golpe de 2023 como tremoço político. Querem transformar em “heróis” quem invadiu o Congresso, atacou governistas e destruiu patrimônio público. Felizmente, essa aberração esbarra em resistências dentro e fora do parlamento, inclusive na base do PT, que não embarca em narrativas golpistas — mas olha com olhos atentos cada movimento para não sair enfraquecido no rolo compressor do centrão.
Enquanto isso, a bancada lulista observa o vaivém do poder com cautela: sabe que não basta remover privilégios, é preciso avançar na reforma política, em controles mais rígidos e em mecanismos populares de fiscalização. Caso contrário, qualquer “boa ação” parlamentar se transforma em manobra de autopreservação.
O que se desenha, portanto, é um retrato fiel da crise: políticos em pânico, mais interessados em barrar investigações do que em punir desvios. E o combustível dessa engrenagem? A mobilização rasteira da direita raivosa, que ainda alimenta fantasmas do passado e ameaça nossa democracia com retrocessos atrozes.
Que fique claro: derrubar o foro privilegiado é importante, mas não pode ser moeda de troca para anistiar golpistas ou blindar corruptos. A verdadeira mudança virá quando o povo for chamado a decidir em instâncias populares, quando houver controle social de emendas e quando nenhum mandatário puder se esconder atrás de privilégios.
Só assim construiremos um projeto popular autêntico, onde estado e sociedade marcham juntos contra o conservadorismo e o capital. Sem vacilações, sem acordos espúrios e com a certeza de que a luta anticapitalista não admite recuos nem trégua!