A crise envolvendo o senador Marcos do Val escancarou mais uma vez o caráter volátil e violento de setores da extrema direita parlamentar. Entre bravatas de ostentar armas e ligações suspeitas com medicamentos controlados, Do Val conseguiu o feito de desafiar uma ordem do Supremo, voltar dos EUA sem permissão e ainda resistir à instalação de tornozeleira eletrônica. Qual o limite dessa escalada de autoritarismo e desrespeito às instituições?
O incômodo no Senado
Em reunião reservada com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), senadores de diversos partidos expressaram verdadeiro pavor diante das atitudes imprevisíveis de Marcos do Val (Podemos-ES). Relatos apontam que o parlamentar se gaba de andar armado e insiste em exibir quantidades industriais de remédios controlados, como se fosse um troféu de sua instabilidade. O clima é de total desconforto, e muitos defendem não apenas coibir sua postura agressiva, mas afastá-lo definitivamente do plenário.
A saída politicalhestra montada no calor do café da manhã dos líderes foi dupla: recorrer ao STF para tentar derrubar medidas como o bloqueio de salário e cota parlamentar, e, simultaneamente, abrir caminho para um atestado médico de 180 dias para Do Val. A ideia é registrar um “licença para tratamento” e, assim, ganhar tempo enquanto a casa analisa uma representação que pode levar ao seu afastamento preventivo.
“O presidente [Alcolumbre] nos comunicou que a Advocacia do Senado foi orientada a recorrer junto ao STF para recuperação de salário e da cota parlamentar. Mas, por outro lado, será apreciada uma representação, em virtude da conduta do senador, que pode acarretar sua suspensão”, afirmou Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso. Cid Gomes (PDT-CE) endossou a estratégia horas depois, confirmando que o Senado mesmo tentará reverter parte das medidas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes.
Segundo o blog da Camila Bomfim, senadores fizeram questão de separar o caso de Do Val do debate mais amplo sobre a prerrogativa do Senado de revisar decisões do STF – até porque, neste caso, estamos muito além de divergência política: trata-se de proteger o próprio funcionamento da República.
Envolvimento da Polícia Federal
Na segunda-feira (4), ao retornar de viagem clandestina aos Estados Unidos, o senador foi alvo de ação da Polícia Federal. Mesmo após determinação expressa do Supremo para não deixar o país, Do Val teimou em embarcar e, ao desembarcar, resistiu à instalação da tornozeleira. Só após insistência dos agentes acatou a medida judicial.
“Ele tentou dificultar a aplicação da tornozeleira, mas, no entendimento da PF, não havia alternativa diante do cumprimento da ordem do STF”, relatou um agente à TV Globo. A lista de medidas cautelares inclui recolhimento domiciliar noturno e integral nos fins de semana; proibição de uso de redes sociais; bloqueio de contas bancárias, cartões e até PIX; suspensão de salário e verba de gabinete; e cancelamento de passaporte diplomático.
O episódio deixa claro que a extrema direita não se contenta com a democracia: prefere o atrevimento, o desrespeito e a violência institucionalizada. Se Do Val representa a face mais escancarada dessa escalada bolsonarista, cabe à sociedade e aos seus representantes eleitos (sim, Lula e o PT, ao lado de outros partidos progressistas, mostraram-se cruciais para conter esse avanço) garantir que o Estado de Direito vença a insensatez.
A batalha contra os abusos de poder não termina com tornozeleiras ou licenças médicas. É preciso romper com o ciclo de impunidade que alimenta a extrema direita e investir de vez em um projeto de desenvolvimento nacional, fortalecimento das estatais e justiça social. Só assim construiremos um Brasil onde arrogância fascista se choque com a firmeza das instituições e a voz do povo organizado.