luta socialista

Líder do PL assume organização de motim na Câmara e afirma ter apenas comunicado Hugo Motta sobre acordo

A cena foi exemplar do que denunciamos há anos: um motim de parlamentares bolsonaristas transformado em acordo para blindar os agressores — e tudo isso com sorriso cínico e ar de normalidade na frente das câmeras. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, assumiu a responsabilidade pelo tumulto que deixou o plenário ocupado como resposta à prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, e ainda teve a ousadia de tratá-lo como negociação institucional. A direita segue se organizando — não para defender a democracia, mas para protegê-la de quem a confrontou.

O acordo e a confissão

Segundo Sóstenes, líderes do PL, União Brasil, Progressistas e Novo teriam costurado um entendimento: primeiro a mudança do foro privilegiado e depois a anistia para os envolvidos no 8 de janeiro. Depois, dizem, comunicaram o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), do suposto entendimento. “O Motta não deu ok, nem nada. Nós só comunicamos ele o acordo dos líderes” — Sóstenes Cavalcante. Traduzindo: eles organizaram a ocupação, decidiram como renomear impunidade como “prioridade legislativa” e disseram que só alertaram o presidente sobre isso. Que belo show de hipocrisia!

Sóstenes também detalhou como teria sido a negociação entre os partidos: “Nós decidimos que esses líderes, que compomos a maioria da Casa, estabeleceremos como prioridade o fim do foro e, a seguir, a anistia [para o 8/1]. Foi esse o acordo feito entre os líderes, depois fomos à sala do Hugo Motta, comunicamos o acordo e combinamos com o presidente que nós, líderes, iríamos comunicar o acordo para descer [ao plenário]” — Sóstenes Cavalcante. Ou seja: não houve autorização formal — houve um pacto paralelo para enterrar investigações e proteger os acusados. A democracia? Em manutenção preventiva até novo aviso.

Enquanto isso, Hugo Motta teve que enfrentar o próprio parlamentar do Novo, Marcel van Hattem, obstruindo sua cadeira, num episódio que parecia tirado de teatro barato. Motta contou depois que precisou da ajuda de colegas para sentar — e agora avalia suspender os mandatos de Van Hattem, Marcos Pollon e Zé Trovão por ocupação bolsonarista na Câmara, conforme reportou o blog do Octavio Guedes. A responsabilidade, porém, foi assumida por Sóstenes, sem constrangimento: “Eu não vou aceitar punição a nenhum dos nossos colegas que estavam ali, eu assumo a responsabilidade sozinho. Se alguém tem que ser punido, que puna-se o líder do PL e da oposição, que nós organizamos toda a ocupação que foi feita” — Sóstenes Cavalcante. Falando em coragem — coragem de quem se coloca como chefe de uma quadrilha política, claro.

A direita, sempre pronta para chorar “liberdades” quando o alvo é diferente deles, agora exige anistia para seus próprios comandos de guerra. O que temos aqui não é uma divergência parlamentar, é uma tentativa explícita de transformar o Legislativo em abrigo jurídico para quem promoveu ataque à República. E mais: não aceitaremos que a farsa de “acordo” passe por cima da democracia!

Como jornalista e militante, vejo nisso uma oportunidade e uma exigência: a esquerda precisa responder com firmeza política e organização social. Lula e o PT não podem — e não vão — assistir passivamente a essa blindagem. É hora de articular unidade social e institucional para impedir que a Casa seja usada como antro de impunidade. Defender estatais, serviços públicos e a investigação rigorosa dos responsáveis pelo 8 de janeiro é parte da mesma luta: enfrentar a extrema direita e desmontar as suas ramificações no poder.

A postura de Sóstenes e de seus aliados revela um projeto claro: deslegitimar a punição e normalizar a violência política. Não se trata apenas de uma confusão de palavras numa sala da presidência da Câmara; trata-se de um ataque aberto ao Estado de Direito. A missão dos que defendem a democracia é desmascarar e combater esse projeto com organização, mobilização e, quando for preciso, pressão popular sobre os espaços institucionais. Só assim impediremos que a direita transforme o Parlamento em um bastião de impunidade para seus extremistas.

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