O tarifaço imposto pelos Estados Unidos deixou claro o óbvio: a dependência das nossas exportações do mercado norte-americano é uma fragilidade estratégica que o governo Lula tenta remediar com diplomacia ativa — e com a contundência que a situação exige. Enquanto Trump arma uma guerra comercial que mistura agressão econômica com chantagem política para beneficiar aliados ideológicos como Bolsonaro, o Brasil busca costurar alianças no Brics e abrir novas rotas comerciais. A pergunta que fica: vamos aceitar ser reféns da caneta de um presidente que ameaça até a nossa Justiça?
Conversas com líderes
Lula começou a mover-se à velocidade que a crise pede. Conversou por telefone com o primeiro‑ministro da Índia, Narendra Modi, e pretende falar com Xi Jinping, da China, além de avaliar contatos com outros parceiros do bloco. “Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão” — Luiz Inácio Lula da Silva. O ponto prático: o Brasil foi taxado em 50% nos EUA; a Índia já tem 25% que pode subir para 50%; Indonésia sofre 19%; a China segue sob um regime próprio e pode enfrentar mais altas; e outros países do novo Brics ampliado têm exposições diversas.
O Brics hoje reúne dez países — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã — e conta com a Arábia Saudita participando das reuniões. A diversidade do bloco, que é sua força geopolítica, é também um problema quando se tenta forjar uma resposta única a Washington. Cada economia tem vínculos e dependências diferentes com os EUA, e nem todos têm disposição política para enfrentar Trump com a mesma virulência que Lula.
Não aceitaremos que bilionários e presidentes de extrema‑direita escolham os destinos das nações.
Negociações individuais
Fontes do governo admitem a dificuldade: é improvável que o Brics produza algo além de notas em defesa do multilateralismo e da Organização Mundial do Comércio. “Cada país traçou sua própria estratégia e nem todos estão dispostos a criticar Trump como Lula tem feito” — fonte do governo. E isso se explica: interesses comerciais, pressões internas e alianças estratégicas variam muito entre os membros.
No caso brasileiro, a disputa extrapola o campo comercial. O tarifaço veio atrelado a tentativas de interferência de Trump no nosso Judiciário, numa clara manobra para favorecer o ex‑presidente Jair Bolsonaro — réu por tentativa de golpe e hoje em prisão domiciliar. Auxiliares de Lula veem nisso um ataque direto à soberania nacional e à independência dos poderes. “No momento não há disposição real de Trump em negociar redução da sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros” — auxiliares do presidente.
Diante desse quadro, a estratégia do governo é pragmática e ofensiva: insistir em negociações comerciais com os EUA, sem abrir mão da defesa diplomática da soberania; e, ao mesmo tempo, diversificar mercados. A presidência brasileira do Brics, que será transmitida à Índia em janeiro de 2026, é usada como plataforma para ampliar relações comerciais e políticas. Para isso, o vice‑presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, recebeu a missão de liderar missões de ministros e empresários ao México e à Índia nas próximas semanas.
A estratégia é clara: negociar, ampliar mercados e fortalecer a soberania econômica do povo brasileiro.
O que está em jogo é muito mais que tarifas: é a capacidade do Estado de proteger seu projeto nacional, suas estatais e os empregos que delas dependem. Lula e o PT não são meros gestores eleitorais aqui; estão posicionando o Brasil para uma nova etapa de enfrentamento com a oligarquia internacional e com as forças internas que apoiam o ataque neoliberal. Será uma disputa dura — e exige unidade social e política para não permitir que a direita, armada de bilionários e retóricas golpistas, dite as regras do jogo. Queremos negociação, mas sem submissão. E vamos à batalha por mercados e por soberania!