O Planalto virou, por algumas horas, o quartel-general da resistência econômica: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na tarde desta segunda-feira (11) o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, para alinhar o plano de contingência contra o tarifão de 50% imposto pelos Estados Unidos. A reunião marcada para as 17h — com a presença, segundo fontes, do ministro da Fazenda Fernando Haddad e outros ministros — busca dar respostas rápidas a um ataque que não é apenas econômico, mas geopolítico e direto contra os empregos e a indústria brasileira. Quem esperava improviso ou timidez, que mude de canal. O governo anuncia que as medidas devem sair ainda hoje; inicialmente a previsão era até amanhã (12).
Primeiras medidas
O pacote, segundo o noticiário, privilegiará linhas de crédito emergencial, adiamento de cobranças de tributos e contribuições federais e compras públicas de mercadorias perecíveis — um socorro imediato para setores que já sentem o baque. Não se trata de curativo para capital especulativo; trata-se de defender empregos, estatais e a capacidade produtiva do país. Alckmin tem sido um dos articuladores e chegou a dizer que o governo lançará “um programa bem amplo” para preservar empresas e postos de trabalho. “Tem setores que nos preocupam. Café, carne e especialmente indústria de máquinas — motores e máquinas. O produto commodity é mais fácil você encaixar em outro lugar. A indústria é mais específica, é mais difícil. Por isso, o governo está lançando — aguarde aí, 24, 48 horas — um programa bem amplo de apoio para preservar emprego e as empresas poderem retomar e fortalecer sua atividade econômica” – Geraldo Alckmin.
Alckmin chegou a cancelar compromissos em São Paulo e voltar mais cedo a Brasília para tratar do assunto — nem a Abag nem a ApexBrasil receberam suas presenças previstas. O recado é claro: quando a soberania econômica é atacada, o Estado tem de agir. E não com meias medidas ou entreguismo neoliberal; com políticas que blindem trabalhadores e setores estratégicos, como a indústria de máquinas, que não se recompõe com exportação pontual de commodity.
A sobretaxa norte-americana, aplicada a partir de 6 de agosto, atinge cerca de 36% das exportações brasileiras para os EUA, o que correspondia a US$ 14,5 bilhões em 2024. Produtos como café, frutas e pescado estão no pacote que virou alvo de 50% de taxação; por outro lado, quase 700 itens ficaram em lista de exceções — suco de laranja e aeronaves, por exemplo, seguem com taxa de 10% anunciada anteriormente. A reação é esperada: empresários preocupados, trabalhadores apreensivos e o governo com pouco tempo para montar um escudo eficaz.
Não vamos aceitar que bilionários e burocratas do megaempresariado mandem no comércio exterior brasileiro enquanto os trabalhadores pagam a conta. Que fique claro: esta disputa não é apenas contra uma bobagem protecionista de Trump — é contra a lógica imperialista que acha que pode falar sobre o destino das nossas exportações enquanto pisa nos direitos sociais e desrespeita nossa soberania.
O desafio do Palácio do Planalto é grande: equilibrar medidas imediatas de mitigação, proteger empregos e ao mesmo tempo construir uma estratégia de médio prazo que fortaleça a indústria nacional, as estatais e a capacidade de negociação do Brasil no mercado internacional. Lula e o PT têm aqui a oportunidade de mostrar que um governo popular e de esquerda não recua diante de pressões externas — ao contrário, usa o Estado para proteger o povo e promover um desenvolvimento soberano. É hora de agir com firmeza, mobilizar as bases sociais e exigir que qualquer socorro venha condicionado à preservação dos empregos, à suspensão de privatizações e à defesa do serviço público. Afinal, quem constrói o Brasil não é a bolsa de valores dos EUA, mas o trabalho do povo brasileiro.