O anúncio do governo sobre as medidas para conter o chamado “tarifaço” dos Estados Unidos — sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros em vigor desde 1º de agosto — virou mais um capítulo de demora e negociação lenta no Planalto. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, garante que as medidas saem até quarta-feira (13), mas as idas e vindas, reuniões até a noite e a necessidade de “bater o martelo” do presidente Lula deixaram empresários e trabalhadores na corda bamba. Quem perde tempo é a produção nacional; quem ganha é uma diplomacia errática do outro lado do mundo.
“Ontem [segunda] tivemos uma reunião até quase oito da noite com a equipe do Ministério da Fazenda, do Ministério da Indústria e Comércio, outros ministérios, com o presidente. Hoje [terça] ele fará nova reunião para avaliar as medidas. Hoje ou amanhã, após ele decidir, essas medidas serão anunciadas” — Rui Costa, ministro-chefe da Casa Civil. Rui reiterou que só depois da decisão final do presidente haverá anúncio; e que ele conversaria novamente com Lula nesta terça. Há também previsão de mais uma reunião às 18h — enquanto isso, a economia espera o desfecho.
O que está sendo costurado
Entre os pontos já alinhados nos bastidores do governo estão: linhas de crédito para financiar investimento e capital de giro das empresas exportadoras; adiamento por até dois meses da cobrança de tributos e contribuições federais, numa medida que lembra as respostas emergenciais da pandemia; e compras públicas de mercadorias perecíveis para evitar que estoques de peixes, frutas e mel apodreçam nos armazéns. Não é hora de improviso: é hora de proteger o emprego e a soberania econômica.
“Houve uma reunião ontem [segunda] até tarde. Alguns detalhes ainda não estavam, vamos dizer assim, absolutamente esclarecidos, até porque as coisas estão acontecendo” — Simone Tebet, ministra do Planejamento. Tebet destacou que negociar com os EUA é jogo de paciência porque há interesses antagônicos, e que definir quem será beneficiado setor a setor é complexo — no caso do pescado, por exemplo, parte do setor seria atendido, não a totalidade.
Um dos pontos que emperram o anúncio é o tamanho do programa Reintegra, o mecanismo de ressarcimento de tributos a exportadores. A conta precisa fechar: quanto o governo pode mobilizar sem abrir mão de instrumentos estratégicos? A resposta ainda está sendo desenhada.
Negociações externas e a diplomacia de mercado
O governo também tenta abrir novos mercados. Rui Costa contou que falou com embaixadores da Índia e da China para sondar compras que substituam os volumes que iam para os EUA. “Estamos conversando sobre o que eles podem comprar de nós e o que nós podemos comprar deles, porque os EUA resolveu brigar com o mundo” — Rui Costa. Bonito ver o governo buscando alternativas comerciais; triste lembrar que a delíria protecionista e golpista de Bolsonaro e sua turma deixou o país mais exposto e sem freio diplomático.
Há ainda o tema político: auxiliares de Lula avaliam que não há disposição de Trump para negociar, em parte porque ele condiciona as conversas ao fim dos processos contra Jair Bolsonaro — réu no STF por tentativa de golpe. Exigir imunidade para quem atacou a democracia? Isso revela a cara do império aliado aos nostálgicos da extrema-direita. Não vamos aceitar que a indústria nacional seja chutada para fora do mercado por chantagens políticas.
Enquanto o Planalto ajusta números, prazos e quem vai receber apoio, o tempo corre. Lula tem viagens previstas — quinta a Pernambuco para cerimônia de investimentos em periferias e favelas — o que aumenta a pressão para que a decisão saia até quarta. Mas quem segura a bronca, no fim das contas, são os trabalhadores, os pequenos produtores e as empresas que dependem do mercado externo.
O governo precisa combinar celeridade com firmeza: medidas rápidas de socorro, proteção para os setores mais vulneráveis e uma política externa que não aceite humilhações. E que fique claro: a direita golpista e seus aliados no exterior não terão carta branca para ditar o destino econômico do Brasil. Hora de reagir com planejamento e coragem — e de transformar esse aperto em impulso para fortalecer a indústria, as estatais e o projeto popular que coloque o país no rumo de soberania e desenvolvimento.