O episódio em que o ator e vereador Alexandre Frota teve R$ 111,6 mil penhorados — e, ao abrir as contas, o Estado encontrou apenas R$ 0,90 — é ao mesmo tempo um símbolo e uma piada amarga: símbolo da impunidade da mentira quando não cobrada a tempo, e piada do tipo que a direita sempre pretende transformar em espetáculo. Frota, que já foi parlamentar federal e não conseguiu se reeleger, é a face midiática de uma extrema-direita que aposta em fake news para destruir reputações e, quando chamada a responder, faz pose de vítima. Quem semeia difamação não pode fugir do preço público que a lei impõe.
Entenda o caso
Em outubro de 2018, Alexandre Frota publicou em suas redes um vídeo e uma série de acusações contra Gerson Florindo de Souza, ex-dirigente do PT em Ubatuba. O vídeo mostrava uma pessoa com roupa e boné de apoio ao então candidato Jair Bolsonaro e xingando Fernando Haddad; Frota também divulgou a foto da urna e o número de votação de Gerson, insinuando que ele era o autor dos xingamentos. Porém, a defesa de Gerson apresentou documentos e indícios de prova — incluindo registros que atestavam sua presença em reunião em Ubatuba na data citada — demonstrando que a acusação era falsa.
A 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo considerou que “a repercussão da publicação, que obtivera milhares de acessos, além de comentários depreciativos, atingiu a honra e imagem do autor” — decisão que culminou na condenação de Frota ao pagamento de R$ 50 mil por danos morais. Com juros e correção, o débito subiu para R$ 111,6 mil, e o juiz Fernando José Cúnico determinou a penhora. Quando os oficiais foram às contas do vereador, encontraram os notáveis noventa centavos. “sim, foi feito um pedido de penhora e foram penhorados 90 centavos”, disse Frota, tentando transformar a situação em anedota. (Alexandre Frota)
Não é apenas uma questão de números. É a lógica do bolsonarismo midiático: espalha-se calúnia para destruir adversários — em especial militantes e dirigentes do PT, que enfrentam essa ofensiva desde 2018 — e, quando a justiça exige reparação, vem a teatralização do “perdão” ou do “sistema contra mim”. O problema não é a falta de discurso; é a falta de responsabilidade. E quando a defesa do patrimônio público e da democracia depende de quem tem coragem de enfrentar os barões da mentira, o trabalho judicial vira um pequeno reduto de civilidade.
Gerson, que teve sua honra atingida e precisou provar com documentos que não praticou o ato imputado, representa a resistência cotidiana ao linchamento moral promovido nas redes por figuras que hoje posam de paladinos. Este episódio também lembra outra verdade inconveniente para a direita entreguista: se privatizam estatais e desmantelam serviços, sobra menos estrutura para proteger cidadãos simples contra a máquina do ódio, e cresce a influência de empresários bilionários que bancam narrativas e pagam militantes de internet.
Como jornalista e militante, vejo nisso um alerta político. Não basta celebrar quando a justiça dá um passo — é necessário transformar essa vitória jurídica em mobilização política permanente contra a desinformação sistêmica. A luta contra a direita não é só eleitoral; é cultural, jurídica e cotidiana. Lula e o PT, para nós que queremos avançar, não são apenas alternativa nas urnas: são centrais na construção de um projeto popular que recoloque o Estado a serviço do povo e enfrente o poder econômico concentrado.
O caso Frota é, portanto, um aviso e um chamado: as redes não podem ser terra sem lei onde se destrói reputação por diversão e depois se faz piada com a conta vazia. Se a direita acha que escândalos e mentiras os protegerão, que se prepare para pagar — na justiça e nas urnas.