Carla Zambelli voltou a protagonizar mais um capítulo da farsa que é a proteção que bolsonaristas tentam transformar em regra: presa na Itália, a deputada do PL apareceu em uma audiência no Tribunal de Apelações de Roma nesta quarta (13), alegou mal-estar, recebeu atendimento médico no local e viu a sessão adiada — agora, a Justiça italiana determinou uma perícia médica e remarcou o ato para 27 de agosto. Enquanto a extrema-direita tenta transformar fuga e crime em espetáculo, a lei segue seu curso, mesmo com quem acha que a impunidade é um direito divino.
Audiência adiada e perícia médica
Na chegada ao tribunal, Zambelli afirmou estar passando mal; uma médica foi acionada e examinou-a no local. Ainda assim, o juiz entendeu necessário ordenar uma perícia médica mais aprofundada. A sessão que poderia decidir se ela aguardaria em liberdade a análise do pedido de extradição ao Brasil foi, portanto, empurrada para o fim de agosto. Zambelli seguirá presa até nova avaliação — ao menos por enquanto, a possibilidade de virar celebridade foragida nas redes sociais não garante saída da cadeia.
A defesa aposta na alegação de saúde para tentar a soltura e, paralelamente, afirmou que o governo brasileiro não formalizou um pedido de prisão preventiva, buscando outra via para libertá-la. Essa tentativa faz parte do manual do bolsonarismo: confundir drama com direito e transformar processos judiciais em palanque midiático.
“Esperamos que ela seja solta a qualquer momento”, disseram os advogados de Zambelli à saída da sessão em Roma.
Extradição, Interpol e a decisão italiana
O caso de Zambelli não é trivial: ela foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão por participação na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), crime cometido com o apoio do hacker Walter Delgatti Neto. Dias após a condenação, fugiu do país e confirmou estar na Itália. O ministro Alexandre de Moraes então expediu mandado de prisão, e a parlamentar acabou detida no fim de julho.
A defesa tenta lacunas processuais; o Ministério Público e a diplomacia jurídica trabalham com bases firmes: a Corte Suprema da Itália já deixou claro que um pedido de prisão baseado na lista de alerta vermelho da Interpol, como no caso de Zambelli, equivale a um pedido de prisão em âmbito internacional. O Tratado de Extradição entre Itália e Brasil, em seu artigo 13,2, consagra essa equivalência. Em outras palavras, não se trata de um detalhe técnico — trata-se de instrumento legal que desmonta tentativas de foro para escapar à justiça. A lei italiana vê a questão como um pedido internacional válido, e isso pesa contra manobras de defesa desesperadas.
Além disso, o processo de extradição seguirá os trâmites previstos, com análise cautelosa dos pedidos das partes e das garantias processuais. A questão da saúde será avaliada por peritos, e só então o juiz definirá se mantém a prisão preventiva até a decisão final sobre a extradição.
Redes sociais e espetáculo político
Mesmo como foragida, Zambelli não se cala: mantém um perfil alternativo no Instagram, criado em maio de 2025 e usado desde 13 de junho para criticar o STF e alimentar sua base. A conta, com cerca de 4.600 seguidores e atualizada pela última vez em 28 de julho, funciona como microfone para sua estratégia de vitimização. Não surpreende: a direita transforma crime em narrativas e usa seguidores como escudo.
Este episódio revela algo maior: a luta contra o bolsonarismo não é apenas sobre punir criminosos, mas sobre desmontar uma máquina política que converte ilegalidade em causa. É por isso que precisamos de instituições fortes — e por que, sim, vejo no projeto do PT e de Lula uma possibilidade de abrir novo ciclo de lutas populares contra o capital e seus privilegiados. Enquanto a direita sonha em wide receivers da impunidade, o movimento popular deve seguir atento, cobrando leis, justiça efetiva e a reafirmação do direito coletivo sobre a barbárie individualista. O destino jurídico de Zambelli será um termômetro dessa disputa: a justiça age, e a política deve transformar esse movimento em força para avançar.