O relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre direitos humanos no Brasil não caiu como uma simples crítica técnica: foi encarado por setores do governo e por ministros do Supremo Tribunal Federal como uma provocação deliberada — uma tentativa tosca de influenciar o jogo político interno em favor das forças autoritárias que ainda rondam nosso país. Não é só ruído diplomático; é ingerência com cheiro de eleição, coordenada por quem acredita que pode ditar regras para nações soberanas enquanto protege aliados reacionários mundo afora.
Ministros e assessores reagiram com descrédito — e com razão
A equipe presidencial e assessores de Lula não economizaram adjetivos: “falso em sua maior parte”, “usa táticas de fake news” e trata-se de “uma ofensa” aos que defendem direitos humanos, disseram os interlocutores do Planalto. A reação do Supremo foi igualmente ácida. Segundo relatos, magistrados consideraram o documento “muito irritante e virando uma brincadeira de muito mau gosto”, mas lembraram que quando a maior potência mundial brinca assim, as consequências deixam de ser engraçadas. “Não pode ser levado a sério, é uma brincadeira de mau gosto, só que elaborado pela maior potência mundial”, avaliou um ministro. Outro magistrado, com pouco otimismo sobre o comportamento de Washington, resumiu: “lamentável… vai escalar ainda mais e tudo vai piorar, antes de melhorar”.
A indignação não é meramente protocolo ou vaidade institucional. Trata-se de uma tentativa explícita de reescrever a narrativa política do Brasil para favorecer interesses que já tiveram sua cara exposta aqui em 2018: Jair Bolsonaro e sua rede de mentiras digitais. Essa ofensiva externa é cúmplice da extrema direita doméstica, e vem justamente no momento em que o país debate medidas para regular o caos informacional nas redes — medidas que ferem o eldorado das plataformas e suas milícias.
Não é coincidência: quando a censura das grandes corporações digitais é ameaçada, os apologistas do caos mobilizam seus padrinhos internacionais. Os EUA, sob a batuta de Trump, mostram que não enxergam a democracia popular como algo a proteger, mas como terreno a ser manipulado para salvar velhas contas com o neoliberalismo.
Por que isso importa para quem luta por soberania e justiça social?
A leitura do episódio é clara para quem milita contra a privatização da vida do povo: há um alinhamento estratégico entre empresários bilionários, plataformas digitais e governos que preferem mercados desregulados e mentes manipuláveis. Defender as estatais, garantir regulamentação das redes e proteger processos democráticos não é “protecionismo autoritário” — é resistência necessária para construir um Brasil que não sirva de quintal para interesses estrangeiros. Lula e o PT, por mais que incomodem a mídia conservadora, representam hoje um centro de gravidade que pode articular políticas populares e retomar instrumentos estatais para o bem comum. Precisamos reconhecer isso e radicalizar a luta democrática.
Quando uma potência estrangeira tenta ditar o que é “direito humano” por meio de um relatório parcial, cabe aos democratas e à esquerda responder com firmeza e clareza: soberania não se negocia. Defender o país é também combater as redes de desinformação que acionam campanhas internacionais de deslegitimação.
Se o relatório foi uma tentativa de proteger Bolsonaro e os que lucram com o ódio, a resposta deve ser política e social: fortalecer instituições, aprimorar regulação das plataformas e ampliar a mobilização popular. Não basta rebater com diplomacia: é preciso construir um projeto que torne obsoletas as aventuras conservadoras e as intervenções externas. A batalha pela verdade e pela soberania é inseparável da luta por reformas estruturais que tirem o Brasil das mãos dos bilionários e do capital financeiro. Quem quer um país livre de patrões e de chanceleres estrangeiros que venham nos ensinar moralidade não tem outra saída senão organizar-se, resistir e disputar poder nas ruas, nas empresas e nas urnas!