O encontro entre o ministro do STF Alexandre de Moraes e o humorista paraibano Mizael Silva, conhecido como o “advogado do Xandão”, foi mais um capítulo dessa nossa política espetáculo em que instituições públicas parecem disputar likes com influenciadores. A reunião aconteceu durante um evento no Supremo destinado a “aproximar” o Judiciário de segmentos da sociedade — e rendeu até uma piada do ministro: “Você tá bem de advogado, estou precisando mesmo […] para me defender nos EUA” — Alexandre de Moraes. O que há por trás de um sorriso e um bordão? Muito teatro institucional, pouca mudança de conteúdo!
Quem é Mizael Silva?
Mizael vem de onde a vida é dura: a comunidade do Baleado, em João Pessoa. Cresceu com os avós, trabalhou como cobrador de ônibus e em hipermercado, e hoje soma cerca de 4 milhões de seguidores no Instagram. Seu personagem — de terno, gravata e o rótulo “advogado do Alexandre de Moraes” — nasceu numa brincadeira que explodiu nas redes: “Eu já fazia um advogado nos meus vídeos. Uma vez, acrescentei que era advogado do ministro e a reação foi enorme. Até hoje, tem gente que acredita que sou mesmo. Alguns me xingam, outros gostam” — Mizael Silva. Frases como “Da melhor forma” e “Valdez, isso é ao vivo” viraram memes; e com os ganhos, Mizael reformou a casa da avó, celebrando a memória da família: “Sei o quanto foi difícil para mainha e papai, a família toda… Hoje papai não está mais aqui, com certeza está em um lugar melhor” — Mizael Silva.
O sucesso pessoal do humorista é legítimo e emocionante, mas devemos ler o episódio com olhos críticos. Mostrar um ministro do STF sorridente ao lado de um influenciador gera empatia; transforma a instituição em “gente como a gente”. Mas enquanto isso ocorre, quem fiscaliza o conteúdo dessas ações? Qual o balanço entre legitimação pública e a banalização de responsabilidades institucionais?
Enquanto o povo enfrenta ataques a direitos e cortes nos serviços públicos, o Judiciário parece empenhado em virar manchete de entretenimento! Não há nada de errado em dialogar com as periferias e com a cultura popular — pelo contrário — mas a aproximação não pode virar marketing para salvar reputações ou desviar atenções dos problemas reais: concentração de renda, privatizações e a ascensão de grupos que querem desmontar o estado e entregar nosso patrimônio aos bilionários.
É preciso também lembrar que o movimento de influenciadores virou peça-chave nas estratégias políticas da direita bolsonarista: desinformação, ódio e celebrização de figuras autoritárias. Então, quando o Supremo promove um evento com creators, cabe perguntar: isso fortalece a democracia ou apenas cria novos mecanismos de circulação de imagem institucional sem enfrentar desigualdades de poder?
Nós, que somos da ruptura com o conservadorismo e do projeto que enxerga o Estado como ferramenta de transformação, precisamos disputar esse terreno cultural! O lulismo, e o PT mais amplo, não devem ser vistos apenas como máquina de campanha — o PT e Lula são responsáveis por abrir espaço para uma nova etapa de luta anticapitalista no Brasil, e é aí que devemos incidir com força e clareza. Defender estatais, barrar privatizações, enfrentar bilionários que saqueiam o país: essa é a agenda concreta que transforma vidas, não a selfie institucional.
Que Mizael siga fazendo rir e representando parte da nossa gente nas redes; mas que esse encontro sirva de alerta: não entregaremos a política de verdade ao espetáculo. Precisamos de democracia com conteúdo, de debate público que enfrente as elites e arranque concessões reais para quem mais precisa. Vamos lutar para que as conversas no Supremo tenham consequência social, não apenas likes!