A decisão do governo dos Estados Unidos de revogar vistos de servidores brasileiros ligados ao programa Mais Médicos — entre eles Mozart Júlio Tabosa Sales e Alberto Kleiman — entra para a lista de intervenções imperialistas que tentam ditar quem pode governar e quem pode cuidar das vidas no Brasil. Não é apenas uma bronca diplomática: é uma arma política usada contra um projeto que levou médicos para onde o mercado não quer chegar. A direita comemora enquanto o imperialismo bate palmas; e nós?, perguntamos: quem defende o SUS e a soberania popular?
Quem foram os atingidos e o que eles fizeram
Mozart Sales, médico com longa trajetória no serviço público e um dos articuladores do Mais Médicos, e Alberto Kleiman, técnico com experiência em relações internacionais e atuação em secretarias do PT, foram publicamente sancionados pelos EUA. O cerne da acusação norte-americana é que o programa teria sido montado em conluio com a OPAS e com Cuba, “driblando” requisitos nacionais e pagando valores ao regime cubano — uma narrativa que transforma cooperação em crime e solidariedade em suposta exploração.
“O programa Mais Médicos foi um golpe diplomático inconcebível,” disse Marco Rubio, secretário de Estado do governo Trump, ao anunciar as revogações. E no tom já conhecido do intervencionismo, os EUA encontram pretextos para punir quem ousa triangular políticas públicas com outros países. Em 2020, o então secretário Mike Pompeo também atacou a OPAS e afirmou que iria exigir prestação de contas, acusando-a de “facilitar trabalho forçado de médicos cubanos.”
O Mais Médicos nasceu em 2013 para preencher vazios do SUS nas favelas e no interior — um programa que o mercado e os conselhos mais conservadores atacaram ferozmente por aceitar médicos estrangeiros. Entre 2013 e 2018, a parceria com Cuba foi a principal forma de levar atendimento para áreas negligenciadas. Depois de 2018, com a chegada de Jair Bolsonaro, Havana retirou os profissionais e o programa foi embaralhado pelo mercado e pela fúria privatista. Relançado em 2023, o Mais Médicos voltou com 24,7 mil profissionais atuando em mais de 4 mil municípios — prova de que política pública bem feita tem impacto real!
Não é à toa que a direita e o imperialismo atacam um programa que leva saúde aos mais pobres! Para eles, cuidar do povo é sempre um problema; para nós, é ação política e conquista civilizatória.
“A medida é também um recado inequívoco: nem ministros, nem burocratas dos escalões inferiores, nem seus familiares estão imunes,” comemorou o deputado Eduardo Bolsonaro ao ver a canetada americana — como se rendição ao imperialismo fosse motivo de orgulho. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com nota oficial: “solidariedade e apoio” aos ministros atingidos e condenou a interferência externa. “A interferência de um país no sistema de Justiça de outro é inaceitável e fere os princípios básicos do respeito e da soberania entre as nações,” disse Lula.
O episódio também recupera um padrão: em julho já tinham sido alvo de suspensão de vistos ministros do STF, mostrando que a Casa Branca usa seu poder para pressionar os trâmites internos do Brasil sempre que convém. A jogada é dupla: enfraquecer as instituições que se opõem ao nexo entre capital e autoritarismo, e explorar fissuras internas da esquerda para reinstalar soluções entreguistas.
Ao mesmo tempo em que denunciamos o intervencionismo, não podemos fechar os olhos às falhas que existiram — sejam elas de fiscalização internacional ou de política pública —; a resposta, porém, não é aceitar o xingamento do imperialismo nem se curvar à narrativa da direita. É reforçar o SUS, expandir programas que garantam atendimento onde o mercado não chega e denunciar o papel dos bilionários e das corporações que lucram com a saúde precarizada.
Defender o Mais Médicos é defender o SUS e a soberania do povo brasileiro. Se querem nos intimidar com vistos e retóricas, que saibam: toda tentativa de desmobilizar a solidariedade médica só nos fortalece na luta contra o entreguismo, o bolsonarismo e o imperialismo. A batalha por saúde pública continua — e será conduzida por quem realmente representa o povo.