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Felca, Hytalo e a adultização: como vídeo viral virou prisão e projeto de lei em 10 dias? Entenda o passo a passo

No dia 6 de agosto, o youtuber Felca publicou um vídeo que explodiu nas redes e trouxe à luz algo que muitos fingiam não ver: influenciadores transformando adolescentes em espetáculo sexualizado. Em menos de dez dias, denúncias, medidas judiciais e uma investigação que parecia lenta demais para o standard do lucro acelerado das plataformas resultaram na prisão de Hytalo Santos, influenciador paraibano, e do marido dele, Israel Nata Vicente, em 15 de agosto, em Carapicuíba. Não se trata de caça às bruxas digital: trata-se de proteger crianças que foram transformadas em produto.

Cronologia

6 de agosto (quarta-feira)
Felca publicou o vídeo “Adultização”, sem monetização, apontando práticas de exploração de menores por criadores de conteúdo. Para montar a denúncia, disse que acompanhou perfis a partir de sua conta pública. “Consultei perfis mencionados para investigar os casos; foi um trabalho jornalístico e investigativo” — Felca.

7 de agosto (quinta-feira)
O vídeo viralizou: cerca de 20 milhões de visualizações já no segundo dia. A repercussão mostrou que o problema não era um caso isolado, mas parte de um ecossistema que normaliza a exposição e a sexualização de menores.

8 de agosto (sexta-feira)
A conta de Hytalo no Instagram foi desativada. O Ministério Público afirmou não ter sido diretamente responsável pela suspensão, mas pediu que ela fosse mantida e ampliada para outras redes. “Não fomos os responsáveis diretos pela suspensão, mas solicitamos que as plataformas mantenham as contas bloqueadas e ampliem a medida” — Ministério Público. Felca, por sua vez, sofreu acusações de ter consumido material sexual infantil durante a investigação; ele explicou que isso foi feito apenas para apurar as denúncias.

9 a 11 de agosto
A discussão escalou para o debate público e político. Buscas pelo termo “adultização” atingiram pico histórico no Google. O presidente da Câmara, Hugo Motta, prometeu pautar projetos sobre proteção de crianças na internet. “Vou pautar projetos de lei sobre proteção de crianças e adolescentes na internet” — Hugo Motta. O Ministério Público e o MPT recomendaram a suspensão de empresas ligadas a Hytalo e pediram a desmonetização dos conteúdos.

12 de agosto
A Justiça acatou pedidos do Ministério Público: bloqueio de redes, desmonetização e proibição de contato com adolescentes. O MPT detalhou investigação sobre exploração de trabalho infantil artístico irregular, analisando dezenas de vídeos e depoimentos. As denúncias de exploração sexual infantil duplicaram após o vídeo; o Disque 100 recebeu mais de mil registros desde 6 de agosto, e a SaferNet registrou alta de 114% nas denúncias de pornografia infantil em redes sociais.

13 a 14 de agosto
Mandados de busca foram cumpridos em imóveis ligados a Hytalo; apreenderam-se computadores e celulares. Advogados do influenciador abandonaram a causa. O advogado que representa Felca declarou que seu cliente passou a usar carro blindado e seguranças após receber ameaças. “Após receber centenas de ameaças, passou a usar carro blindado e seguranças” — advogado de Felca.

15 de agosto
Hytalo e Israel Nata Vicente foram presos em Carapicuíba. A Justiça da Paraíba apontou indícios de tráfico de pessoas, exploração sexual e trabalho infantil artístico irregular. Reportagens mostraram que, desde 2020, vídeos de menores produzidos por Hytalo ultrapassaram 1,5 bilhão de visualizações — números que valem dinheiro e, tragicamente, expõem vidas.

O choque público trouxe à tona debates necessários sobre legislação e responsabilidade das plataformas. “O PL 2628/2022 propõe medidas para proteger menores no ambiente digital e precisa ser discutido com urgência” — diretora do Instituto Alana. É hora de aprovar leis que não fiquem só no discurso para a mídia e as redes, enquanto os algoritmos continuam empurrando conteúdo predatório porque dá engajamento e lucro.

Plataformas, anunciantes, políticos e uma parte da sociedade que finge moralidade seletiva têm responsabilidades claras. As plataformas lucraram com isso e agora fingem que não viram. Não basta prender os nomes; é preciso desmontar o modelo que transforma crianças em mercadoria digital, responsabilizar quem lucra e fortalecer instrumentos de proteção e fiscalização. Só a mobilização popular, acompanhada de legislação robusta e fiscalização efetiva, vai evitar que casos como esse se repitam. O silêncio e a indiferença já custaram demais às nossas crianças. Quem quer que se diga defensor da família, que comece a agir.

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