Carla Zambelli, presa na Itália desde 29 de julho, entrou em mais uma cena do teatro da direita em apuros: seu advogado anunciou que ela não se opõe a cumprir pena no Brasil, desde que encontre “juízes imparciais”. Enquanto isso, aguarda-se o andamento do processo de extradição e a retomada de julgamentos que podem somar décadas de pena e enterrar de vez a carreira parlamentar da deputada do PL. Que surpresa: a militância da lei seletiva insiste em buscar favores, mas a Justiça parece menos inclinada a negociar impunidade.
“Ela não se opõe a cumprir pena no Brasil, o que a Carla sempre disse é que ela quer estar em um país que ela pode ser julgada por pessoas imparciais. Então, o momento atual do governo aqui é onde a Carla não quer ser julgada ou cumprir pena. Ela foge, hoje, realmente das penas exorbitantes e penas ideológicas do Supremo Tribunal Federal” — Fabio Pagnozzi, advogado de Carla Zambelli.
Retomada do julgamento
O Supremo Tribunal Federal retomou o julgamento que apura a perseguição armada contra um apoiador de Lula na véspera do segundo turno de 2022 — um episódio que escancarou o ódio da extrema direita contra opositores e a disposição de atos violentos para intimidar eleitores. O processo, relatado por Gilmar Mendes, versa sobre porte ilegal de arma e constrangimento ilegal. A Corte já dispõe de maioria para condenar Zambelli a 5 anos e 3 meses de prisão, além da perda do mandato. Não é uma conspiração: são votos de ministros como Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Dias Toffoli.
“A questão de saúde é a número 1. A deputada, como todos sabem, ela tem inúmeros problemas de saúde, dentre eles problema de coração, ela retirou um tumor do cérebro anos atrás. São, realmente, vários problemas que não são compatíveis com a carceragem” — Fabio Pagnozzi, advogado de Carla Zambelli.
Essa alegada condição de saúde virou a nova moeda de troca da direita: quando a lei aperta, surge um drama médico convenientemente divulgado. Se os ministros seguirem a jurisprudência e analisar os fatos, o cálculo é simples: condenação no STF e perda imediata de prerrogativas.
Condenação no caso CNJ e panorama da extradição
Zambelli já carrega uma condenação definitiva por ter participado da trama que invadiu os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A Primeira Turma do STF fixou pena de 10 anos em regime fechado, perda do mandato e inelegibilidade; o hacker Walter Delgatti Neto foi condenado a 8 anos e 3 meses. Ambos também foram condenados a pagar R$ 2 milhões por danos morais e coletivos — um sinal de que fabricar mentiras e forjar mandados contra ministros não sai barato, nem é aceitável em nome de nenhum projeto político.
Se a Itália autorizar a extradição, Zambelli voltará ao Brasil para cumprir a pena imposta no caso CNJ — e se for condenada no processo sobre a perseguição armada, terá as penas somadas. Ela tentou uma perícia médica independente na Justiça italiana na tentativa de obter prisão domiciliar; é uma estratégia previsível de quem tenta postergar a responsabilização.
Enquanto isso, os aliados da extrema direita tentam transformar cada decisão judicial em um espetáculo midiático para galvanizar sua base. Mas dá para perguntar: quando a militância autoritária será cobrada não só nas urnas, mas na cadeia da responsabilidade democrática? A resposta é que a luta política precisa seguir em duas frentes — eleitoral e judicial — para varrer do espaço público aqueles que pregam violência e corroem instituições.
A prisão de Zambelli e os processos que se acumulam contra ela não são apenas detalhes jurídicos; são parte de um recado claro: o projeto de ódio que tentou se legitimar com fake news e intimidação enfrenta agora medidas concretas de responsabilização. Que isso sirva de alento para quem luta por democracia, estatais públicas e pela reconstrução de um projeto popular! O combate à direita e ao bolsonarismo não é só moral; é também material — e a exigência de que paguem pelo que fizeram é parte indispensável dessa batalha.