luta socialista

“Alckmin destaca ‘boa química’ entre Trump e Lula como caminho para solução do tarifaço”

O que parecia ser apenas mais uma cena teatral na Assembleia Geral da ONU — dois poderosos se encontrando por alguns segundos e trocando sorrisos — virou manchete e promessa de solução para um problema concreto: o tal “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos ao Brasil. Mas antes de nos apaixonarmos pela química de 39 segundos ou acreditar que um aperto de mão vai resolver as assimetrias entre o capital americano e os interesses populares brasileiros, é preciso olhar com desconfiança e firmeza. Lula fez o que devia — diplomacia em alto nível — e o resto? O resto é palco para o velho jogo do bom mocismo internacional.

O encontro relâmpago e as falas

O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, tratou de vender o encontro como um sinal positivo e uma oportunidade de negociação. “Ontem (terça-feira) houve uma boa química entre os presidentes que vai nos ajudar a encontrar a melhor solução para resolver um tarifaço que não se justifica” — Geraldo Alckmin, disse ele durante evento no BNDES. Alckmin ainda afirmou que, entre os dez produtos que mais compramos dos EUA, em oito não há tarifa, e que a tarifa média de entrada no Brasil é de 2,7%, postando a conversa como algo aberto também para investimentos.

Do outro lado, o show de espetacularização típico dos bilionários com pretensões políticas: “Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto… Por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal” — Donald Trump. Trump classificou o tempo de conversa como algo quase cinematográfico e já anunciou intenção de se reunir com Lula na semana seguinte, segundo fontes governamentais brasileiras, sem detalhar se seria encontro presencial ou telefonema.

Não é com abraços de cortesia que se derrota o imperialismo! O gesto conta — claro — na diplomacia. Mas não pode ser confundido com estratégia de defesa dos interesses populares. O Brasil tem 201 anos de relações com os EUA, como lembrou o presidente em exercício; isso não apaga as assimetrias históricas e os mecanismos de pressão econômica que Washington usa quando convém aos seus interesses corporativos.

A questão das tarifas é real e merece ser tratada com seriedade técnica e política. Se há realmente espaço para diálogo, que ele seja aproveitado para proteger empregos, a indústria nacional e a capacidade de o Estado planear investimentos públicos — especialmente em setores estratégicos que o mercado privado não quer tocar. Não podemos, porém, nos esquecer: quem controla poder econômico não se curva por simpatia de 39 segundos — exige condições, reciprocidades e, muitas vezes, chantagem.

Lula representa a força popular que pode impor respeito — não favores! A diferença entre um governo que negocia para o povo e um governo que cede ao mercado é política, não protocolo. É por isso que é vital que qualquer conversa com Washington venha acompanhada de reivindicações claras: proteção para indústrias estratégicas, cláusulas que preservem empregos, mecanismos contra dumping e, sobretudo, reforço da soberania nacional sobre recursos e políticas públicas.

Para os radicais de direita que adoram transformar cada gesto diplomático em narrativa de “boa convivência” com os poderosos do Norte, um recado: não nos enganem com abraços! Para a esquerda e para a base popular, um apelo: acompanhar de perto as negociações, cobrar transparência e garantir que quaisquer acordos não sejam trocados por compromissos neoliberalizantes. Há uma oportunidade diplomática — e Lula, historicamente, tem capacidade de usar a diplomacia em favor do povo. Mas sem luta, sem mobilização social e sem firmeza política, todo sorriso num corredor da ONU vira só espetáculo para as câmeras.

Mais notícias para você
30da2f33-41e8-4414-b665-adf9db9ef4bd
Aneel ainda não decidiu sobre renovação da concessão da Enel em São Paulo, alerta diretor

A Aneel ainda não deu o veredito final sobre a renovação da concessão da Enel em São Paulo, mas já...

1d6a48e9-904f-41ed-8ec2-391ea141325f
Alexandre de Moraes libera redes de Carla Zambelli com multa diária por posts de ódio

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de revogar o bloqueio de perfis e canais associados à deputada Carla Zambelli...

f7f7a5e1-5125-4c05-b0ec-c7623e54ef81
Relator alinhado ao bolsonarismo pode definir o destino de Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética

A decisão que afastou Eduardo Bolsonaro da liderança da minoria na Câmara veio envolta em justificativas “técnicas” — exatamente o...