A Procuradoria-Geral da República voltou a apertar o cerco contra personagens da tropa de choque bolsonarista: nesta segunda-feira (22), a denúncia contra o influenciador Paulo Figueiredo avança por coação contra autoridades do Poder Judiciário, com o claro objetivo de interferir na investigação sobre a tentativa de golpe de 2022. É mais um capítulo da mesma novela que mistura desinformação, lobby sujo e patriotismo de fachada — enquanto empresários e boçais de direita apontam o dedo para o “perigo” ao Estado, fazem alianças internacionais para salvar seus privilégios. A nova denúncia mostra que a rede bolsonarista se vale de chantagem e de lobby internacional para tentar prosseguir com seus planos golpistas.
Ligação com Trump e Eduardo Bolsonaro
Radicado nos Estados Unidos, Paulo Figueiredo virou peça-chave de um esquema transnacional: aliado próximo do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ele foi citado nominalmente na ordem executiva de Donald Trump que tentou sancionar o ministro Alexandre de Moraes e ainda aplicar sobretaxas ao Brasil. O texto de Trump chegou a acusar Moraes de violar direitos humanos de cidadãos americanos — incluindo o próprio Figueiredo — numa grotesca tentativa de transformar disputa judicial interna em crise diplomática.
Figueiredo e Eduardo não só falaram mal do STF no café da esquina: foram a Washington para fazer lobby por sanções contra o ministro e defender o famigerado “tarifaço” de 50% sobre produtos brasileiros. Ou seja, além de conspirar dentro do país, buscaram intervenção e pressões externas como quem contrata um advogado internacional para justificar um desvario político. Que fique claro: atacar instituições públicas e convidar potências estrangeiras a intervir é ação política, e deve ser tratada como tal.
Trajetória, redes e o caminho até o Supremo
Antes de se tornar influenciador, Figueiredo foi comentarista de TV e se consolidou como um crítico sistemático do STF e apoiador ardoroso de Jair Bolsonaro. Em 2022, teve contas bloqueadas por decisão judicial, bens congelados e o passaporte cancelado — medidas que escancararam o nível de envolvimento em campanhas e operações de ataque às instituições. Formado em economia e com cursos em Harvard, LSE e MIT, o influenciador soma um currículo que serve de carimbador para vender cursos online e angariar seguidores no YouTube e no site conservador The Epoch Times.
Em audiências no Congresso dos EUA, passou de agressões verbais a demandas formais: acusou Moraes de comandar uma “ditadura brasileira”, disse Paulo Figueiredo, e pediu a aplicação da Lei Magnitsky para punir o ministro. Esse repertório transforma a retórica conspiratória em ação concreta — petições, lobbies, pedidos de sanção — que agora motivam a denúncia da PGR.
Como esses casos avançam no STF? Primeiro, a denúncia precisa ser admitida pelo Supremo para se transformar em ação penal. Se aceita, Figueiredo vira réu e a Corte entra na fase de instrução: colheita de provas, depoimentos de testemunhas e interrogatórios. Ao final, acusação e defesa apresentam alegações finais e os ministros decidem se condenam ou absolvem. Em caso de condenação, a própria Corte fixa a pena conforme a participação no crime, e ainda cabem recursos internos. Vale lembrar que há outra denúncia — de fevereiro, por participação no “núcleo da propagação de desinformação” relacionado à tentativa golpista de 2022 — que ainda não foi analisada pela Primeira Turma do STF, justamente porque o influenciador mora nos EUA e não foi notificado pessoalmente.
O que tudo isso diz sobre o país? Mostra a cara de um projeto político que, ao invés de disputar ideias, recorre a chantagem, a exposição internacional e ao mercado midiático para tentar se reinstalar no poder. Enquanto a direita insiste em projetar fantasia de vítima, seus operadores tecem acordos com governos estrangeiros e plataformas de desinformação. É hora de manter vigilância democrática e pressionar por responsabilização — sem ingenuidades: a luta para desmantelar as estruturas autoritárias não se resume a processos jurídicos, exige organização social, mobilização popular e apoio a políticas que defendam as estatais e os serviços públicos. Se querem disputa política, que disputem nas urnas e no debate — não com golpes, não com sanções estrangeiras e nem com chantagens.