A declaração de Donald Trump, afirmando que o presidente Lula “pode falar comigo quando quiser”, promete acender mais um capítulo de tensão e sarcasmo na relação Brasil–Estados Unidos. Enquanto a Casa Branca dá um passo simbólico, o Itamaraty mantém o pé no freio, lembrando que gestos diplomáticos não se traduzem automaticamente em diálogos fluidos entre chefes de Estado.
Entre o gesto e a confirmação
“Ele pode falar comigo quando quiser.” — Donald Trump, em resposta à repórter Raquel Krähenbühl, da TV Globo. A frase ecoa como um convite demagógico, no melhor estilo de quem adora bancar o salvador do mundo em 280 caracteres. Mas, nos corredores do Itamaraty, a avaliação é menos empolgada. Para a diplomacia brasileira, Trump abriu a porta, mas ainda é preciso conferir se a porta está mesmo aberta. Fontes desse ministério dizem que gestos isolados não bastam para retomar um canal de contato estratégico, principalmente depois das sanções e do tarifão de 50% sobre produtos brasileiros.
Ligações de chefes de Estado não são improvisadas: exigem preparação de alto nível, definição clara de agenda e, acima de tudo, disposição política de ambos os lados. Não dá para trocar figurinhas no zap e, pronto, resolver décadas de desavenças imperialistas.
O contexto de sanções e tarifas
Na outra ponta dessa corda, Trump assinou uma ordem executiva que mira o Brasil com uma tarifa de meia tigela: 50% sobre itens nacionais. A justificativa? Práticas que, segundo ele, violariam a “liberdade de expressão” e afetariam interesses estratégicos dos EUA. No mesmo dia, Alexandre de Moraes, ministro do STF, recebeu sanção da Lei Magnitsky, acusação de violação de direitos humanos incluída no pacote. A reação em Brasília e no Supremo foi imediata: indignação e protestos à altura das ameaças contra nossa soberania.
Enquanto isso, o governo Lula corre atrás de canais diplomáticos para reverter esse descalabro. Mas, sejamos francos: a raposa imperialista não larga o osso fácil. Antes de dar qualquer passo adiante, é preciso ver quais outras cartas a Casa Branca está escondendo na manga.
Em plena Era Digital, os EUA continuam operando pelo manual da Guerra Fria, impondo tarifas como se fossem chicotes comerciais. O Brasil, por sua vez, precisa reagir com estratégia e unidade nacional — sem se aliar a senhores da guerra que só querem encarcerar nosso futuro em cláusulas leoninas.
As peças ainda se movem
Diplomatas brasileiros destacam que o encontro do chanceler Mauro Vieira com senadores republicanos, como Marco Rubio, pode ter sido um ponto de inflexão. Mas alinhar palavras em Washington não garante sintonia plena entre as instâncias de poder americanas. “Ainda é cedo para afirmar se há um canal de diálogo realmente aberto.” — confidencia um alto funcionário do Itamaraty.
Em paralelo, Lula desabafou ao New York Times: “Ninguém nos EUA quer conversar.” Desde ministros até embaixadores, todos teriam batido em portas seladas. Só resta ao presidente o gesto pessoal: ligar diretamente para Trump e cobrar respeito pelo Brasil.
Tanto esforço buscando interlocução mostra que nossa diplomacia não aceita humilhações. O governo Lula sabe que precisa enfrentar o império com inteligência e firmeza, apostando em aliados internacionais dispostos a resistir ao belicismo comercial de Washington.
Para derrubar as barreiras, não basta falar ao vento ou contar com slogans vazios. É preciso mobilizar a sociedade civil, articular uma frente ampla contra o domínio financeiro e propor alternativas concretas de cooperação Sul-Sul. O PT e seus parceiros têm noção clara: o combate ao imperialismo econômico só se conquista com protagonismo popular e soberania de verdade.
Lula aguarda o telefonema de Trump, mas sabe que o poder não se faz de cartas perfumadas: é construído no embate político e na unidade dos trabalhadores. Se o convite do magnata americano for sincero, ótimo — mas que venha acompanhado de respeito, reciprocidade e, principalmente, do fim das sanções que empobrecem nossa nação. Caso contrário, continuaremos na trincheira, apontando o dedo para quem insiste em tratar o Brasil como quintal de seus interesses.