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Assembleia Geral da ONU: Por que o Brasil sempre abre os discursos e qual o peso político disso

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai abrir a Assembleia Geral da ONU em Nova York — e, como manda a costumeira liturgia diplomática, o Brasil volta a ocupar o microfone primeiro. Por que sempre nós? Não é feitiço nem sorte: é tradição consolidada desde meados do século XX, com explicações que vão do elogio diplomático à pura disposição brasileira de não fugir da frente. Lula, claro, aproveita o palco para empurrar nas caras da direita e dos bilionários a necessidade de soberania, defesa das estatais e políticas sociais que afrontam o neoliberalismo. Quem esperava silêncio decoroso, que se prepare para ouvir verdades!

Desde 1955, com poucas exceções, o Brasil passou a ser o orador inaugural das Assembleias Gerais. A coisa nasceu num contexto histórico carregado: o mundo se organizava após a Segunda Guerra, a Guerra Fria tensionava relações e a ONU crescia em importância. Há várias teorias sobre por que o Brasil ficou com a primazia. Uns dizem que foi um “prêmio de consolação” por não integrar o temido Conselho de Segurança; outros afirmam que escolhiam o país por uma suposta neutralidade diante do choque EUA-União Soviética. Mas a versão mais simpática e quase folclórica é que, simplesmente, ninguém queria abrir o baile — e o Brasil sempre se dispunha a pegar o primeiro microfone.

“Em tempos muito antigos, quando ninguém queria falar primeiro, o Brasil sempre se oferecia para falar primeiro. E assim ganhou o direito de falar primeiro na Assembleia Geral”, disse Desmond Parker, chefe de protocolo da ONU, à rádio NPR em 2010.

Desde 1955 o Brasil fala primeiro na Assembleia Geral, com raras exceções. A tradição nasceu tanto da diplomacia quanto da disposição brasileira — e, claro, de quem topava estar na frente para dizer o que pensa.

Ordem dos oradores

A abertura formal é feita pelo presidente da Assembleia Geral. Em seguida vêm o secretário-geral da ONU e o presidente da sessão. Depois disso entra o Brasil — seguido pelos Estados Unidos, país anfitrião — e, a partir daí, a lista segue segundo protocolo: hierarquia dos representantes (chefes de Estado, depois vice-chefes, chefes de governo, ministros) e, geralmente, por ordem de chegada. O “Debate Geral”, apesar do nome pomposo, não é um debate no sentido interativo: cada país faz seu discurso para apresentar posição e prioridades internacionais.

Nem sempre essa ordem se manteve intacta. Em 1983 e 1984 os Estados Unidos falaram primeiro; em 2016 o Chade entrou em segundo por atraso do presidente norte-americano; e em 2018 o Equador teve que falar em segundo também por atraso de Donald Trump. Pequenos imprevistos que não mudam a regra: o Brasil continua sendo o primeiro a confrontar o mundo — e a direita brasileira treme quando o microfone aponta contra privatização e entrega do país.

As Nações Unidas nasceram em 1945 com 51 membros; hoje são 193. Além dos Estados-membros, a Santa Sé e o Estado da Palestina aparecem como observadores, assim como a União Europeia em condição especial. Os líderes são convidados a respeitar um limite voluntário de 15 minutos, mas sabemos que há quem prefira discursos curtos e objetivos — e quem aproveita para fazer ecoar programas de resistência anti-neoliberal.

E por que isso ainda importa? Porque a tribuna da ONU não é apenas protocolo: é oportunidade de colocar as demandas populares no mapa global, de denunciar o ódio e o desmonte promovidos por bolsonarismos e neoliberais, e de reafirmar que outro caminho é possível. Lula usa o púlpito para isso — para incomodar elites e exigir soberania, direitos e respeito aos trabalhadores. A tradição de abrir a Assembleia só ganha sentido se for também usada como arma política em defesa do povo. Quem vê na presença do Brasil apenas pompa, que acorde: trata-se de política, presença estratégica — e não vamos ceder espaço para os que querem privatizar o que é nosso!

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