O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano — o maior patamar em quase 20 anos. A narrativa oficial fala em “cautela” diante de um cenário externo volátil e de uma inflação ainda acima da meta, mas não nos enganemos: juros altos são uma faca de dois gumes que sempre corta primeiro os bolsos dos trabalhadores e protege o lucro dos grandes. O fato de os diretores indicados pelo presidente Lula formarem maioria no colegiado mostra que o governo está jogando pesado no tabuleiro — e essa decisão terá consequências políticas e sociais que precisamos discutir com clareza.
Por que mantiveram a Selic?
O Copom argumentou que, embora a atividade econômica tenha desacelerado, o mercado de trabalho segue aquecido, e as medidas subjacentes da inflação continuam acima da meta. Em suas palavras: “Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue apresentando, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação”, afirmou o Copom. No campo externo, o temor é a incerteza na política econômica dos EUA: “O ambiente externo se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos. Consequentemente, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos têm sido afetados”, continuou o Copom.
Juros altos penalizam sobretudo a população mais pobre, que fica sem crédito e paga mais caro por tudo. Ao manter a Selic nesse nível, o Banco Central aposta que esse aperto no crédito e no consumo vai conter a inflação — uma aposta de alto custo social.
Impacto na economia
O efeito é previsível: crédito mais caro, investimento privado contido e crescimento menor. O Ministério da Fazenda já revisou para baixo a projeção de crescimento do PIB de 2,5% para 2,3% neste ano, reconhecendo que os efeitos cumulativos da política monetária contracionista pesaram sobre a atividade. Em suma: o remédio para a inflação está deixando o paciente fraco. Enquanto isso, o mercado financeiro aplaude, os bancos sorrindo com spreads mais gordos, e os bilionários de sempre continuam ilhados em suas fortunas.
A classe trabalhadora não pode pagar a conta do ajuste — e nós precisamos dizer isso alto e claro!
Como age o Banco Central?
O BC opera por um sistema de metas de inflação: se as projeções ficam dentro da meta, os juros podem baixar; se ficam acima, o Copom tende a manter ou subir a Selic. Desde 2025 o sistema de meta contínua passou a considerar a meta de 3% cumprida se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%. Vale lembrar que mudanças na Selic levam de seis a 18 meses para impactar plenamente a economia, então estamos pagando hoje por escolhas de ontem.
“No documento, o presidente do órgão, Gabriel Galípolo, culpou a atividade econômica aquecida, o câmbio, o custo da energia elétrica, além de anomalias climáticas”, disse Gabriel Galípolo. Traduzindo: fatores diversos empurram os preços, mas a resposta escolhida é apertar o freio do crédito — uma opção política, não uma lei da natureza.
Próximas reuniões e cenário político
O Copom se reúne a cada 45 dias; as próximas datas em 2025 são 4 e 5 de novembro e 9 e 10 de dezembro. A expectativa dos economistas é que a taxa permaneça nesse patamar até, pelo menos, o começo de 2026. Para nós, isso significa tempo para organizar resistência: defender emprego, proteger serviços públicos e impedir que o ajuste vire desculpa para privatizações e desmonte do Estado.
Que quede claro: a luta não é apenas técnica. É política! Enquanto o mercado exige austeridade para preservar lucros, precisamos articular um programa que coloque o povo no centro — fortalecendo estatais, combatendo privatizações e retomando a iniciativa pública sobre investimentos que garantam emprego e justiça social. Lula e o PT, com suas indicações no BC, podem ser aliados nessa travessia — mas é imprescindível que o movimento popular pressione para que a política econômica não se subordine aos interesses dos bancos e dos bilionários. Quem paga a conta deve ser convocado a contribuir — e não apenas os trabalhadores e a periferia.