A base do governo sofreu um revés na disputa pela presidência da CPMI mista que vai investigar os desvios no INSS — e a derrota, embora pontual, acende uma luz de alerta: a direita e suas redes de influência continuam na pista, e é preciso organização e combatividade para responder à altura. O episódio mostra que a ofensiva conservadora não se limita às ruas e às redes sociais; está também dentro das instituições. Mas o recado dos governistas foi claro: não vão entregar o jogo sem luta.
“Nós temos maioria. Vamos organizar nossa maioria e vamos fazer valer nossa maioria”, declarou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) ao chegar ao Palácio do Alvorada, onde cumpriu agenda com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O governo vai aprovar requerimentos. Somos os maiores interessados em apurar, percorrer todo esse processo, entender onde foi facilitado credenciamento, instituições fantasmas, onde foi mudado regras e procedimentos que permitiram o credenciamento de instituições que nunca poderiam ter sido credenciadas”, acrescentou Pimenta, prometendo trabalho incisivo da base. É bom lembrar: não adianta teatralizar surpresa — o inimigo está à espreita e usa seus aparatos para tentar relativizar escândalos e proteger interesses.
Na votação, a oposição elegeu o senador Carlos Viana (Podemos-MG) para presidir a CPMI, com 17 votos contra 14 do senador Omar Aziz, apoiado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e por governistas. O fato de uma comissão que parecia encaminhada ao controle governista cair nas mãos de opositores demonstra que a disputa política não se resume a declarações grandiloquentes. Viana logo indicou como relator o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), enquanto o governista Ricardo Ayres (Republicanos-PB), indicado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, saiu derrotado.
A reação petista foi imediata: a ministra Gleisi Hoffmann convocou reunião de emergência com lideranças do governo e integrantes do PT para cobrar posturas e ajustar a retaguarda. Pimenta, por sua vez, assegurou que não haverá saída de Randolfe Rodrigues da liderança do governo no Congresso por causa do episódio. Ainda assim, a sinalização política é evidente: é hora de reorganizar a maioria, fortalecer a articulação e não subestimar a capacidade de manobra da oposição.
CPI vai investigar desvios
A CPMI terá até 180 dias para trabalhar e orçamento estimado em até R$ 200 mil. O foco são os esquemas revelados pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, que apontam para cobranças mensais não autorizadas — os famosos descontos associativos — feitos por associações e entidades que, segundo as investigações, nem sequer tinham capacidade operacional para prestar serviços aos beneficiários. Houve cadastros forjados e indícios de que recursos desviados de aposentados e pensionistas podem ter atingido até R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
Essa CPMI não é uma peça de retórica: é uma oportunidade para expor quem lucrava com a miséria dos aposentados e para avançar em responsabilizações reais. Se o governo quer manter credibilidade, deverá apoiar uma investigação célere e transparente — e o PT tem papel central para empurrar essa agenda adiante, sem tempo para meias-verdades.
O perigo, claro, permanece: com a presidência e a relatoria nas mãos de opositores, a comissão pode ser instrumentalizada para desgaste político, buscando espetacularizar em vez de punir. Da nossa parte, cabe acompanhar de perto, denunciar tentativas de captura do processo e mobilizar a base popular para exigir resultados concretos — apuração rigorosa, transparência e punição aos responsáveis.
O embate na CPMI é mais um capítulo da luta política que atravessa o país. Não vamos naturalizar os ataques às estatais, às políticas públicas e aos direitos dos trabalhadores. É hora de reforçar a organização, articular as forças de esquerda e usar todas as ferramentas institucionais e de massas para garantir que a investigação do INSS não vire palco de impunidade. A frente é ampla, e a luta continua.