O núcleo bolsonarista com interlocução em Washington voltou a agir como se vivêssemos num filme de chantagem diplomática: pediram prazo ao governo dos EUA para articular no Congresso brasileiro a aprovação de um pacote que ataca diretamente o Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores, a promessa é sempre a mesma — reduzir tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil em razão do processo contra Jair Bolsonaro — e, como contraponto, oferecer ao governo americano a aprovação de medidas que protejam os responsáveis pelo golpe e pelo ataque às instituições. É a velha política de troca de favores, mas em versão ainda mais grosseira: justiça por alívio econômico, poder por impunidade.
O tal pacote negociado por deputados bolsonaristas com apoio de líderes como Arthur Lira tem três eixos óbvios e perigosos: a PEC das prerrogativas, que pretende exigir autorização da Câmara ou do Senado para que parlamentares sejam processados; a mudança no foro privilegiado, para retirar do STF processos contra deputados e senadores; e, por fim, a anistia, com objetivo explícito de livrar condenados e investigados pelos atentados de 8 de janeiro — e quem sabe até o próprio Bolsonaro. Não é reforma institucional: é blindagem institucional para criminosos! Ao tentar deslocar para o Congresso o que a Constituição remete ao STF, esses grupos buscam transformar o parlamento em uma espécie de abrigo para crimes políticos e golpistas.
Enquanto tentam negociar essa impunidade em Brasília, o núcleo bolsonarista em Washington, liderado pelo deputado Eduardo Bolsonaro e pelo empresário Paulo Figueiredo, tem outro plano na manga: ampliar o alcance da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes. A ideia — tão rasteira quanto previsível — é pressionar o governo americano para incluir familiares de Moraes na lista de sancionados, numa tentativa de intimidação que ridiculariza qualquer noção de independência judicial. Bolsonaristas contam com um calendário: cerca de três semanas até o início do julgamento de Bolsonaro no STF, marcado para 2 de setembro. Se houver condenação, acreditam, a Magnitsky pode recair sobre todos os ministros que votarem pela responsabilização do ex-presidente. É chantagem geopolítica para tentar anular a democracia brasileira.
Bastidores do encontro com Bessent
Na semana passada, Eduardo Bolsonaro e o blogueiro Paulo Figueiredo foram recebidos por Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA — no mesmo dia em que uma reunião entre Haddad e representantes norte-americanos foi cancelada. A dupla apresentou um relatório acusando bancos brasileiros de não cumprirem a lei Magnitsky. Ao fim do encontro, pediram uma foto, consultaram aliados no Departamento de Estado e acabaram divulgando a imagem nas redes, com o aval de vozes como a do senador Marco Rubio. A cena tem tudo: teatralidade, busca por legitimidade externa e tentativa de transformar um caso judicial interno em espetáculo diplomático.
“O Brasil é ‘péssimo parceiro comercial’ e o processo contra Bolsonaro é ‘execução política’.” — Donald Trump
“O Brasil não vai ficar de ‘joelho’ e não aceitará mentiras sobre sua postura comercial.” — Luiz Inácio Lula da Silva
Essas jogadas não acontecem num vácuo. São parte de um esforço coordenado da direita — desde oligarquias nacionais até redes com ligação direta à Casa Branca — para desestabilizar o país e proteger os seus. O que está em jogo é a própria noção de responsabilidade: aceitar essa chantagem seria abrir precedente para que interesses privados e governos estrangeiros determinem quem responde por crimes contra a democracia.
A resposta da esquerda e das forças democráticas tem de ser firme e claro: defender o STF, proteger as investigações e impedir que o Congresso se transforme em um tribunal de exceção para políticos envolvidos em golpes. Lula e o PT, mesmo com todas as críticas que mereçam, hoje aparecem como forças centrais nessa batalha por recolocar o país no rumo democrático e social. Cabe ao povo organizado emparedar a direita e suas tentativas de salvar corruptos com palmas estrangeiras — e lembrar que defender estatais, serviços públicos e soberania econômica é também lutar contra esse tipo de chantagem. Não faremos barganhas com a impunidade.