luta socialista

Bolsonaro planejou nomear Eduardo secretário de Tarcísio para manter mandato enquanto estava nos EUA

As mensagens encontradas pela Polícia Federal no telefone de Jair Bolsonaro e anexadas ao inquérito que indiciou pai e filho desenham um roteiro que não é apenas rasteiro: é uma aula de como as oligarquias do bolsonarismo tentam preservar privilégios à custa das leis e do interesse público. A ideia era clara — transformar um mandato federal em um cabide confortável enquanto o titular brilha nos Estados Unidos — com ajuda de um governo estadual amigo e de uma costura política na Câmara. Simples, descarado e, para quem conhece essa gangue, perfeitamente previsível.

O plano em detalhes

As mensagens, datadas do começo de junho, sugerem nomear Eduardo Bolsonaro como secretário em São Paulo — pelo decreto do governador Tarcísio de Freitas — e, com isso, justificar uma licença por “missão temporária de interesse público” que permitiria a manutenção do vínculo e dos vencimentos como deputado. Os passos eram meticulosos: nomeação pelo governador; declaração da natureza institucional da missão; pedido formal à Mesa Diretora com base no art. 235, IV do RICD; e articulação política com a Presidência da Câmara. Não é apenas criatividade política — é a tentativa explícita de burlar regras para manter privilégios.

O texto anexado pela PF ainda pondera possibilidades: se São Paulo não fosse conveniente, “outro Estado parceiro” poderia servir — com “um pouco mais de trabalho jurídico e político”. E, claro, havia a preocupação de que Eduardo tivesse que, ao menos em tese, representar o Estado para evitar “especulações ou mesmo novos processos”. Traduzindo: formalidade onde interessava e silêncio onde a imoralidade era grande demais.

“Sóstenes, abusando da tua boa vontade aí… Vê se a gente pode nesse dispositivo aí do regimento interno, prorrogando por igual período, mais quatro meses. Vê se é possível aí. Ou seja, um projeto de resolução” — Jair Bolsonaro, segundo a transcrição da PF.

Costura política e desespero tático

A articulação não ficou só nas ideias. Jair chegou a enviar, no dia 5 de junho, uma mensagem para 47 parlamentares pedindo apoio a um projeto para permitir o exercício remoto do mandato a partir do exterior, com plenos poderes regimentais. A proposta é assinada pelo deputado Zucco (PL-RS), líder da oposição na Câmara — ironia fina: um projeto de “modernização” para salvar um único caso, em vez de defender o interesse público. Aos assessores, Bolsonaro mandava “corre atrás”. Em áudio para o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, ele pede diretamente a providência; Sóstenes responde prontamente: “Presidente vou pedir pra preparar” — e a máquina partidária entra em movimento.

A Polícia Federal também registrou orientações do ex-presidente para que fossem colhidas assinaturas necessárias — 257 deputados, segundo as conversas — e a expectativa explícita de que a Mesa ajudasse a sacramentar o expediente. Não consta, nas mensagens, resposta direta de Eduardo ao plano sugerido pelo pai. Mas a movimentação por trás é suficiente para revelar a natureza do esquema.

Isso é bolsonarismo: um manual de jeitinhos para driblar a democracia enquanto posam de patriotas.

O que vemos aqui não é apenas um cálculo jurídico: é uma tentativa de instrumentalizar o Estado para interesses privados e familiares. É a velha prática da direita messiânica — governar como se o público fosse propriedade de uma família ou de um clã político, contornando regras e impondo privilégios. Tarcísio, Sóstenes, Zucco — todos envolvidos na coreografia — mostram como funciona a engrenagem do conservadorismo corporativo.

Frente a isso, a tarefa das forças populares é dupla: denunciar com furor essas tramóias e fortalecer alternativas reais de poder que não dependam de conchavos e de gabinetes para manter privilégios. Lula e o PT, por mais que sejam alvo de críticas e exigências, hoje aparecem como uma das poucas forças com capacidade de reorganizar o Estado em favor do interesse coletivo — devolver às estatais, aos serviços públicos e à democracia a centralidade que estes conspiradores tentaram privatizar. É hora de cortar as manhas, não de naturalizá-las. E que fique claro: tolerância zero com quem acha que o país é um balcão de negócios familiares.

Mais notícias para você
287803e0-d4a8-49a9-9b08-d9b6a89ce3af
Defesa de Mauro Cid informa ao STF que ata notarial que comprovaria diálogos não existe

O Supremo Tribunal Federal realizou acareação entre Mauro Cid e o coronel Marcelo Câmara em mais um capítulo da tentativa,...

8b12b7df-e842-4189-af0c-c8c5f92ab7e4
Senado aprova projeto para proteger crianças e adolescentes da adultização nas redes sociais

O Senado aprovou nesta quarta-feira (27) um projeto de lei que tenta enfrentar a adultização de crianças no mundo digital...

652fa207-8fe6-4c56-98aa-c97b264fc93c
Eduardo Bolsonaro acumula faltas desde março e defende anistia a criminosos em audiência remota na Câmara

O deputado federal Eduardo Bolsonaro segue em sua tournée estadunidense — longe do Parlamento, mas bem perto de interesses que...