Em meio ao **tarifaço** imposto por Donald Trump, o Brasil amarga sete meses consecutivos de déficit comercial com os Estados Unidos. Enquanto o presidente ianque aumenta as sobretaxas para pressionar indústrias e beneficiar seus próprios lobistas, nossa economia segue drenada, comprando mais bens lá fora do que vendendo lá dentro. Esse cenário expõe a fragilidade do país diante das engrenagens do imperialismo econômico, que não perdoa quem não se alinha de olhos fechados à política externa de Washington.
O rombo estrutural com os EUA
Os números oficiais do Ministério do Desenvolvimento confirmam: em julho, exportamos US$ 3,71 bilhões aos EUA e importamos US$ 4,26 bilhões, registrando um déficit profundo de US$ 559 milhões. No acumulado de janeiro a julho, o prejuízo chega a US$ 2,23 bilhões – um salto de 600% em relação ao mesmo período de 2024, quando o rombo foi de US$ 319 milhões.
“O Brasil demanda mais bens dos Estados Unidos do que eles demandam do Brasil. Quando nosso PIB cresce, compramos mais máquinas e equipamentos, e isso reflete maior importação de bens de capital,” afirmou Herlon Brandão, diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do MDIC.
Desde 2009, acumulamos déficits, resultado de políticas que privilegiam a abertura irrestrita e a subserviência a potências estrangeiras. Em 16 anos, o saldo negativo ultrapassa US$ 88,61 bilhões. Esse cenário só escancara como o projeto neoliberal, abraçado por governos de direita e até por setores acomodados da centro-esquerda, mantém o Brasil preso à exportação de commodities e à importação de produtos de maior valor agregado.
O aumento das tarifas e o impacto local
O tarifaço de Trump subiu em ondas: começou com taxas menores e escalonou para uma sobretaxa de 50% sobre 36% de nossas exportações aos EUA, em vigor desde 6 de agosto. A justificativa? Um suposto déficit americano – inexistente segundo a própria balança comercial deles – e disputas políticas internas, incluindo a defesa do processo contra Jair Bolsonaro e “direitos de liberdade de expressão” de cidadãos ianques.
“O impacto direto será a redução gradual desse comércio no futuro. Aumentar tarifa é receita certa para diminuir o fluxo de bens entre os países,” alertou Brandão, ao reforçar que é preciso tempo para medir todos os efeitos.
Os setores afetados já correm ao governo Lula em busca de medidas protetivas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, garantiu encaminhar propostas ao Planalto para mitigar os prejuízos. O Brasil também acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC), mas, como todos sabem, litígios no tribunal global são lentos e sem garantia de vitória.
A balança geral ainda resiste, mas por pouco
Quando se considera o comércio com todos os parceiros, o superávit em julho foi de US$ 7,07 bilhões – queda de 6,3% em relação a julho de 2024. As exportações totalizaram US$ 32,31 bilhões (alta de 4,8%), mas as importações subiram 8,4%, somando US$ 25,23 bilhões. No acumulado anual, o saldo positivo atinge US$ 36,98 bilhões, mas registra retração de 24,7% frente a janeiro–julho de 2024.
Esses dados provam que, sem uma política industrial de verdade e medidas de **proteção inteligente**, nosso país continuará vulnerável aos humores dos poderosos do norte. O desafio é enfrentar esse cenário de frente, com um projeto nacional-popular que fortaleça estatais, invista em pesquisa, valorize o trabalho e inverta essa lógica de servidão aos cartões de crédito externos.
À luz desse ataque direto à nossa economia, cabe perguntar: vamos continuar aceitando as regras de um jogo viciado, ou é hora de apostar em uma estratégia soberana, lutando para que o Brasil deixe de ser mero fornecedor de matérias-primas e se torne protagonista na produção e inovação? A hora de reverter o quadro é agora!