O governo brasileiro reagiu com firmeza ao anúncio israelense de retomar a construção de um grande assentamento na chamada região E1, entre Jerusalém Oriental e Jericó, projeto que pode erguer mais de 3.400 unidades habitacionais e, na prática, cortar a Cisjordânia ao meio. A nota do Itamaraty publicada na sexta-feira (15) coloca o Brasil ao lado do direito internacional e da defesa da viabilidade da solução de dois Estados — e acende novamente o debate sobre o papel do Estado brasileiro e das forças progressistas na cena internacional.
“O governo brasileiro condena o anúncio do governo israelense de aprovação de plano para a construção de mais de 3.400 unidades habitacionais em novo assentamento na ‘região E1’, entre Jerusalém Oriental e Jericó” — Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). “O Brasil insta Israel a abster-se de adotar ações unilaterais equivalentes à anexação do território palestino ocupado, as quais ameaçam a viabilidade da implementação da solução de dois Estados e comprometem o alcance de uma paz sustentável na região” — Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).
O anúncio foi feito pelo ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, que resumiu o que está em jogo com a honestidade típica dos confiantes: “[A medida] enterra a ideia de um Estado palestino” — Bezalel Smotrich. Netanyahu, por sua vez, preferiu o confortável silêncio público — ou será que estava consultando seus financiadores de sempre? Não é coincidência que a expansão dos assentamentos seja sempre promovida pelo espectro mais reacionário da política israelense: colonização por vias administrativas, empurrada à força e apresentada como normalidade.
O mapa, a estratégia e a hipocrisia
A região E1 é estratégica: se ocupada de forma consolidada por colonos israelenses, interrompe a continuidade territorial entre o norte e o sul da Cisjordânia, tornando a ideia de um Estado palestino viável uma ilusão cartográfica. É a técnica da anexação por fatos consumados — uma velha receita que vê no direito internacional um detalhe dispensável. A expansão de assentamentos não é um desacordo urbanístico: é política de ocupação.
O Brasil, sob a liderança de Lula e do seu governo, tem adotado postura clara sobre o conflito e sobre a ilegalidade dessas ações. Comunicados oficiais chegaram a descrever a situação com palavras duras, classificando o que ocorre como ação de “colonos” e trazendo relatos que chegam a ser considerados por alguns do governo como “carnificina” — palavras que apontam para a gravidade humanitária do caso. “Alguns comunicados oficiais descrevem israelenses agindo como ‘colonos’ com palestinos, submetendo a população a uma ‘carnificina'” — Governo brasileiro (comunicado oficial). “[O presidente Lula] entende que isso seja um ‘genocídio'” — Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não se trata apenas de posicionamento moral: é geopolítica. Países como Reino Unido, França, Canadá e Portugal já anunciaram reconhecimentos ou revisões de suas posturas para este ano, e a solidariedade internacional se reorganiza contra a estratégia de fato consumado das direitas europeias e israelenses. É hora de a esquerda internacional reforçar a pressão diplomática e desmascarar os que financiam e lucram com a ocupação.
O debate aqui em casa não pode ser secundário. Enquanto os bilionários de direita e suas redes tentam naturalizar alianças com extremistas estrangeiros, o governo Lula e o PT têm a oportunidade — e a responsabilidade histórica — de traduzir posicionamentos em política externa coerente, em solidariedade ativa com os povos oprimidos e em esforços para fortalecer instituições multilaterais. A firmeza diplomática do Brasil não é detalhe retórico: é componente de uma política internacional anti-imperialista e anticolonial.
A hora é de mobilização: denunciar a escalada de assentamentos, proteger direitos humanos e empurrar para a frente uma agenda que combine solidariedade internacional com políticas públicas aqui dentro — lembrando sempre que quem financia essa agenda de ocupação são as mesmas elites que querem privatizar tudo em casa. Se queremos um Brasil soberano e laico, que não ajoelhe perante bilionários nem aos caprichos de governos reacionários, essa deve ser também a nossa luta fora das fronteiras. E aí, vamos agir ou vamos assistir os mapas serem redesenhados pelos poderosos de sempre?