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Câmara em choque: Lira cria versão radical da PEC da Blindagem que ameaça investigações e age para proteger aliados

As cenas grotescas em torno da chamada “PEC da Blindagem” não foram só mais um episódio de comédia política: foram um ataque direto aos mecanismos mínimos de controle democrático, protagonizado por quem deveria representar o povo, mas age como se fosse tribunal de proteção para suas próprias escutas e rachadinhas. O que vimos na residência oficial da Presidência da Câmara foi o Centrão em modo de autopreservação: Arthur Lira e Elmar Nascimento articulando um texto que condiciona qualquer investigação a um crivo prévio do Parlamento — em outras palavras, uma cláusula para sepultar a investigação de parlamentares corruptos antes mesmo de começar.

O teatro e os atores

A versão radical do texto, impressa em vermelho nos trechos que circulavam, causou escândalo até entre os próceres do Congresso. O relator Lafayette Andrada, segundo relatos, reagiu com indignação: “Aquela versão não foi escrita por mim e não assinarei o relatório”, disse Lafayette Andrada (Republicanos-MG). Alguém do meio parlamentar, revoltado com a peça, enviou a minuta a um ministro do STF — que prontamente cobrou explicações. Motta, acossado, esbravejou contra o vazamento e tentou apagar o incêndio. Já passava das 22h quando se decidiu arquivar a votação daquela aberração.

Isso não foi um debate sobre princípios; foi uma operação de blindagem pessoal. Lira e Elmar não escondem que jogam para se proteger de investigações que podem chegar perto das suas trajetórias políticas. Não é coincidência que a cláusula pretendesse transformar prerrogativas constitucionais em escudo absoluto contra inquéritos. O objetivo é explícito: proteger carreiras e projetos eleitorais, não o mandato popular.

A repercussão foi imediata e cáustica dentro da própria Câmara. Um deputado do PDT, Mário Heringer, não teve papas na língua e botou o dedo na ferida: “uma aberração”, disse Mário Heringer (PDT-MG). E por que não? A tentativa de transformar o Parlamento em instância de autorregulação para blindar crimes é um retrocesso democrático que só atende aos interesses dos poderosos e das espertezas partidárias.

Enquanto isso, no Planalto, o governo manteve distância formal — como bons tocadores de uma pauta que não querem assumir publicamente. Mas a realidade é que o episódio fragilizou relações e deixou uma percepção clara: Hugo Motta aparece cada vez mais como uma liderança sem rumo, rejeitando orientações e pulso para resistir às pressões do Centrão. Lula, segundo relatos, tem se colocado à disposição para ajudar: “não tem feito nada de mal para o governo”, disse um aliado próximo de Lula, sob reserva. Mas oferecer ajuda é pouco quando a Casa está infestada por fisiologismo e ambições pessoais.

A fagulha dessa crise pode ainda inflamar outra batalha: a reforma do imposto de renda, relatada por Lira, pode virar moeda de troca. Há temor de que o Centrão use retaliações para forçar alterações que favoreçam os interesses do próprio grupo — como ampliar demais a faixa de isenção ou eliminar taxação sobre altas rendas, desfigurando a proposta e pressionando Lula a vetos que, no fim, beneficiariam os abastados e prejudicariam os serviços públicos.

Não se trata de um conflito entre espaços institucionais; trata-se de uma luta de classes dentro do parlamento, travestida de “defesa de prerrogativas”. O que está em jogo é o controle sobre a possibilidade de investigação e responsabilização. Se o Legislativo se transforma em anistia automática, quem vai fiscalizar os capitalistas, as privatizações e os bilionários que sonham nos palácios?

É hora de não nos iludir com gestos protocolares. A mobilização social, a atenção da imprensa crítica e a firme atuação do Executivo para defender instituições e estatais são essenciais. Precisamos ver o episódio pelo que é: um aviso da extrema-direita parlamentar e do fisiologismo — e a resposta deve ser firme, democrática e de esquerda. Que fique claro: o povo não aceitará que a Câmara se transforme em cofre para corruptos enquanto o país precisa de políticas públicas, investimento estatal e combate aos privilégios dos ricos. A batalha continua, e é para vencer.

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