A chegada de Antônio Carlos Camilo Antunes, o conhecido “Careca do INSS”, ao Senado para depor na CPMI que investiga a farra de desvio de aposentadorias foi mais um capítulo de vergonha para quem deveria proteger os direitos dos mais velhos — e, claro, um prato cheio para os defensores do status quo que fingem surpresa quando o esquema desmorona. Ao mesmo tempo em que o país assiste carros de luxo sendo apreendidos e milhões sendo transferidos entre laranjas e servidores corruptos, parte da direita segue com a audácia de minimizar o saque ao bolso do povo. Antunes chegou escoltado pela Polícia Federal e com mais perguntas do que respostas — exatamente onde deveria doer.
O que a investigação mostra
A Polícia Federal aponta Antônio Camilo como um dos operadores desse sistema que, segundo as apurações, pode ter drenado até R$ 6,3 bilhões das aposentadorias entre 2019 e 2024. Entre 2023 e 2024, só para não deixar dúvidas, o “Careca” teria transferido R$ 9,3 milhões para pessoas ligadas a servidores do INSS. São números que mostram uma máquina bem azeitada de corrupção, com associações que cadastravam aposentados sem autorização, falsificação de assinaturas e descontos ilegais — tudo para encher o bolso de poucos às custas de muitos. Essa é a cara do país que a direita quer: enriquecer a elite com o suor e a miséria dos trabalhadores.
“Certeza na vida a gente só tem com a morte. Essa não se escapa dela. Mas há uma boa conversa com o advogado (…) eu tomei a decisão de transferi-lo na quinta para que todos possam ter tempo para fazer as perguntas”, disse o presidente da CPMI, senador Carlos Viana, ironizando o recuo inicial de Antunes. A ironia é justo reflexo do desdém com que esses atores tratam processos sérios — recuam quando lhes convém, reaparecem para justificar o injustificável.
A defesa de Antunes, segundo reportagem ao blog da Camila Bomfim no g1, chegou a anunciar que ele não ficaria calado durante a oitiva e que usaria o espaço para se defender. “Ele não ficaria calado durante o depoimento”, disse a defesa ao blog. Pois bem: desistiu. Mais uma dança de cadeiras para empatar investigações e ganhar tempo.
Família, sócios e contradições
Com o operador se eximindo temporariamente da arena, a CPMI convocou familiares e sócios: esposa, filho, sócios declarados e ocultos, e advogados. Alguns negaram o envolvimento. Rubens Oliveira Costa, ex-diretor ligado às empresas do “Careca”, afirmou em depoimento que nunca foi sócio e que jamais recebeu comissões — versão que acabou costurada por contradições suficientes para que a CPMI o prendesse em flagrante por falso testemunho. “Jamais fui sócio de qualquer empresa ao lado de Antônio Camilo”, afirmou Rubens durante a oitiva. Já Milton Salvador de Almeida Júnior se disse prestador de serviços, não sócio, e que emitia notas a pedido do contratante: “Não sou, nunca fui e jamais serei [sócio do ‘Careca do INSS’]. Sou prestador de serviços.”
Essas negativas são velhas conhecidas: quando o esquema é exposto, a palavra favorita é “inocente”. Mas a PF já mapeou as transferências e as empresas intermediárias que vinham recebendo recursos de associações de aposentados — parte desses recursos teria sido desviada para servidores. Não é coincidência; é roteiro.
Os episódios escancaram uma necessidade urgente: reforçar o controle público, defender as estatais e combater quem transforma serviço social em negócio privado. Enquanto a direita comemora privatizações e a blinda corrupção, é preciso resistência organizada — e é aí que projetos populares, como os encabeçados pelo PT em sua nova fase, entram na disputa não só eleitoral, mas de civilização. Lula e o campo progressista precisam fortalecer o Estado social, punir corruptos e recuperar o que foi roubado do povo.
Não é só choque de indignação na imprensa; é luta política. Se queremos estancar o sangramento das aposentadorias, é preciso ir além de CPI: responsabilização exemplar, reforma das estruturas que permitiram o esquema e reformas políticas que dificultem o surgimento de novas quadrilhas. A história não aceita acomodação — e os que lucraram com o desespero dos aposentados precisam responder.