O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, o chamado “careca do INSS”, vai comparecer nesta segunda-feira (15) à CPI mista que investiga fraudes no Instituto Nacional de Seguridade Social. Preso na última sexta-feira pela Polícia Federal sob suspeita de articular um esquema bilionário de desvios — que teria passado por compra de dados de aposentados e descontos ilegais —, ele chega ao Congresso cercado por advogados e estratégias jurídicas. A operação revela mais uma rodada do saque aos recursos públicos, enquanto o aparelho do Estado segue sendo tratado como moeda de troca por operadores e seus cúmplices.
O depoimento e o teatro da impunidade
A defesa afirma que o objetivo do depoimento será concentrar-se exclusivamente na situação pessoal de Antunes e que ele vai responder às perguntas feitas pelos parlamentares. “Fui orientado a responder às perguntas dos parlamentares e a falar apenas sobre minha situação”, disse a defesa. Curioso: o ensaio público de silêncio seletivo nunca foi tão bem coreografado. A chamada “faculdade” de comparecer, determinada após questionamento levado ao ministro André Mendonça, do STF, alimentou especulações sobre acordos e blindagens.
Investigadores apontam Antunes como um dos articuladores do esquema que teria permitido a obtenção irregular de dados de aposentados e pensionistas, repassados para entidades que viabilizavam descontos indevidos. Essa não é apenas mais uma história de corrupção: é um retrato do que ocorre quando setores do aparelho estatal se alinham com operadores privados em nome do lucro. O “careca do INSS” vai à CPI não para esclarecer um único erro, mas para ser a ponta visível de um iceberg de conivência.
Antes do depoimento, a defesa chegou a anunciar que ele não compareceria, depois que o ministro André Mendonça tornou facultativa a ida ao colegiado. “Anteriormente, a defesa havia afirmado que ele não compareceria após o ministro tornar facultativa a ida ao colegiado”, afirmou a defesa. No entanto, Antunes foi convocado na condição de investigado e decidiu enfrentar as perguntas — com a proteção de que não é obrigado a responder tudo o que possa incriminá-lo.
Na audiência de custódia, os advogados pediram que, após depor na CPI, Antunes ficasse detido no 9º Batalhão da PMDF. Esse pedido foi encaminhado pela 15ª Vara Federal de Brasília ao relator do caso no STF, o ministro André Mendonça, que ainda precisa decidir o local da prisão. A novela institucional segue: decisões sobre liberdade e local de custódia passam por instâncias superiores enquanto a sociedade observa — muitas vezes impotente — a coreografia das cúpulas.
É essencial perguntar: quem lucra com o desvio de recursos dos mais vulneráveis? Quem organizou a venda de dados, permitiu descontos e lucrava com a miséria alheia? Enquanto a direita do latifúndio político ri e aponta para “efeitos colaterais” da burocracia, trabalhadores e aposentados pagam a conta. Esse caso não é apenas sobre um empresário: é sobre como o aparelho do Estado pode ser saqueado por quadrilhas que se alimentam de impunidade.
O episódio reforça a necessidade de vigilância popular e de uma resposta política que vá além do espetáculo parlamentar. Precisamos de reformas que desarticulem essas redes e de um Estado forte, público e eficiente — exatamente o oposto das privatizações e do desmonte promovidos pela direita bolsonarista e seus braços econômicos. Lula e o PT, para quem acredita numa verdadeira remodelagem democrática, têm papel central não só na denúncia, mas em construir alternativas institucionais que impeçam que o patrimônio público vire moeda de troca.
A CPI terá que mostrar mais do que o rosto do operador: precisa desenhar as conexões, mostrar os beneficiários e responsabilizar tanto quem operou quanto quem tolerou e permitiu. Enquanto isso, o país assiste: entre manobras jurídicas e posturas ensaiadas, as vidas dos aposentados seguem sendo violadas. Quem quer mudar isso sabe para onde apontar — e não é para o lado dos bolsonaristas nem dos seus financiadores bilionários.