Enquanto Carla Zambelli tentava escapar dos tentáculos da Justiça brasileira em solo europeu, a Polícia Federal – incansável no rastreamento de figuras do bolsonarismo – mantinha o cerco sobre cada passo da deputada. O desdobramento da operação revela não apenas o grau de organização da extrema-direita em se articular internacionalmente, mas também a disposição do Estado em não tolerar fugitivos políticos que se julgam acima da lei. É um retrato fiel do desespero que toma conta do grupo anti-democrático quando as engrenagens da Justiça começam a funcionar.
Movimentação e vigilância
Desde junho, o adido da PF na Itália trabalhava em parceria com a polícia italiana para localizar Zambelli. A estratégia era minuciosa: troca constante de endereços, hospedagem em pensões e apartamentos compartilhados, tudo para camuflar a presença da deputada que, até então, pregava contra o “excesso de Estado”.
“Não foi possível monitorar o tempo todo, 24 horas. Então, não sabemos em quantos lugares ela se abrigou, mas com certeza mudava de endereço”, afirmou ao blog uma fonte da PF envolvida na operação. Mesmo sem esse monitoramento contínuo, bastou um fio de informação para que as autoridades italianas descobrissem, no dia 13 de junho, que Zambelli estava em uma pensão frequentada por outras famílias.
A partir daí, acionou-se o protocolo diplomático e judiciário: troca de ofícios entre o Ministério Público Federal e as instâncias italianas, análise de extradição e cautela política para não transformar o caso numa polêmica internacional desnecessária. Mas, como sempre ocorre quando se trata de figuras do bolsonarismo, a prioridade foi cumprir a lei e derrotar a impunidade que esse grupo tanto cultiva.
O nó da operação
A prisão que todos aguardavam em poucas horas foi adiada em nome de “cautela” pela polícia italiana. A justificativa? Evitar constrangimentos diplomáticos e garantir que todas as instâncias judiciárias estivessem devidamente consultadas. Enquanto isso, Zambelli continuou alternando o local de abrigo, confiante de que escaparia do mandado de prisão expedido pela Justiça brasileira.
O resultado desse jogo de gato e rato só reforça a vocação autoritária de quem já tentou dar golpe e, agora, foge como um fugitivo comum. Com o cerco apertado, os europeus finalmente deram o bote: um apartamento em Roma, prédio discreto mas vigiado 24 horas pelos agentes da polícia italiana, em ação coordenada com a PF.
Quando a blitz aconteceu na terça-feira (29), restou a Zambelli entregar-se ao inescapável: o cumprimento de investigação criminal movida contra ela no Brasil. A cena, para quem a acompanha como exemplo de militante da extrema-direita, deixou claro que nenhuma articulação política, por mais ruidosa nas redes sociais, pode sobrepor-se ao devido processo legal.
O desespero da extrema direita
Enquanto a deputada enfrentava a realidade das grades em Roma, seus aliados lançavam notas inflamadas, acusando o PT e o Supremo Tribunal Federal de perseguição política. Perguntamos: onde estavam esses mesmos porte-vozes quando os escândalos e falcatruas bolsonaristas eram denunciados sistematicamente?
“Estamos diante de um ataque à democracia,” proclamou um dos extremistas de plantão, sem, no entanto, apresentar uma única prova de ilegalidade por parte de quem conduziu a operação. O que se viu, na prática, foi a aplicação da lei em plena conformidade com acordos internacionais de cooperação judiciária.
E agora, o que esperar? A prisão de Carla Zambelli serve de alerta para qualquer militante que se julgue intocável. Mostra, também, que a aliança Lula-PT não está disposta a recuar diante da ofensiva conservadora. A articulação entre Brasil e Itália prova que, quando há interesse de combater o autoritarismo, não há fronteiras capazes de frear a ação do Estado democrático de direito.
Com essa vitória, reforça-se a urgência de manter a mobilização popular e fortalecer as instituições públicas – desde a PF até os tribunais – contra os que ameaçam o país com nostalgia de ditadura e teorias da conspiração. Que fique claro: quem investe em mentiras e radicalismo só colhe o próprio isolamento. E, por fim, a prisão de Zambelli mostra que nem o aparato midiático bolsonarista nem seu show de fake news serão suficientes para escapar da Justiça.