Carla Zambelli voltou a ser centro de espetáculo e escândalo: presa na Itália, condenada pelo Supremo e ainda assim tentando escapar das consequências políticas de suas ações. Nesta quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara ouviu a deputada licenciada por videoconferência no processo que pode culminar na perda do mandato — um processo instaurado depois da condenação definitiva do STF pela invasão aos sistemas do CNJ. O circo está armado; a pergunta é: até quando a extrema direita seguirá desafiando a lei sem pagar o preço político por seus crimes?
O processo e a prisão
Zambelli foi condenada pelo STF por envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça. Antes que a condenação transita-se em julgado, ela fugiu para a Itália e acabou incluída na difusão vermelha da Interpol. Em julho, foi detida nos arredores de Roma e agora aguarda extradição na penitenciária feminina de Rebibbia. Enquanto isso, o Congresso tenta responder: a perda de mandato exige decisão definitiva e, depois da CCJ, só o plenário pode consumar a cassação — são necessários pelo menos 257 votos.
Neste ambiente de tensão, o processo na CCJ segue com depoimentos de testemunhas que podem selar o destino político de Zambelli. Já depuseram nomes como o hacker Walter Delgatti Neto e o especialista em coleta de dados Michel Spiero. Ainda faltam ouvir o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, delegados e agentes da Polícia Federal e o blogueiro Oswaldo Eustáquio. O relator Diego Garcia (Republicanos-PR) tem até cinco sessões para apresentar seu parecer à comissão.
A extrema direita apostou na impunidade e na violência institucional — está na hora de recebê-la com a resposta política que merece.
As declarações que surgem do processo são um espetáculo à parte. Walter Delgatti, condenado e preso, afirmou que a invasão aos sistemas do CNJ ocorreu a pedido de Zambelli e que chegou a se hospedar na casa da deputada em Brasília. “Exerceu o comando direto sobre os crimes”, afirmou Walter Delgatti Neto. Do outro lado, Zambelli rebate com sua estratégia conhecida: desacreditar testemunhas e transformar provas em “histórias”. “Todo o processo que a levou a ser condenada se baseia em ‘disse-me-disse'”, afirmou Carla Zambelli, chegando a atacar a sanidade do hacker e mencionar questões médicas pessoais — tática velha da direita: desqualificar quem aponta seus crimes.
O que está em jogo não é só a carreira de Zambelli, mas a capacidade de uma direita autoritária de ocupar espaços institucionais enquanto promove ataques às próprias estruturas democráticas. Não é coincidência que figuras do bolsonarismo e do circo ultraconservador tentem transformar perseguições judiciais em palanques políticos. A resposta tem que ser clara e firme: quem ataca as instituições deve perder o mandato e responder na Justiça.
O país não pode conviver com parlamentares que instrumentalizam crimes para fins políticos; a democracia exige sanção e reparação.
A CCJ cumpre seu papel técnico e político ao ouvir testemunhas e encaminhar o relatório ao plenário. Mas a batalha real será no voto dos deputados: são necessários 257 votos para cassar o mandato. Pergunto: haverá coragem suficiente para derrotar uma bancada que ainda tenta chutar as estruturas republicanas a cada sessão? Ou a cumplicidade política continuará a permitir que extremistas habitem o Parlamento?
Se há uma lição desse episódio, é que a luta contra o bolsonarismo e suas ramificações precisa ser contínua e organizadora. Não basta esperar decisões judiciais: é preciso mobilização popular, articulação nas ruas e coalizões políticas capazes de barrar quem quer destruir direitos e vender o país ao capital. Lula e o PT, para nós, devem ser parceiros nessa etapa de ofensiva contra a direita; não como gestores burocráticos, mas como atores centrais de um novo período de disputa democrática e social.
A história de Zambelli é um teste de fogo para o Legislativo e para a sociedade: vamos permitir que a direita mantenha assento no parlamento sem pagar pelo atentado às instituições, ou vamos, finalmente, desmantelar politicamente essa escória que flerta com o autoritarismo? A resposta definirá muito do rumo político do país nos próximos anos.