O show de circo bolsonarista segue, mas a peça principal agora tem nome: responsabilidade. Carlos Bolsonaro, o vereador que virou porta-voz da família, resolveu apontar o dedo para o tenente-coronel Mauro Cid como o responsável pela condenação de seu pai no Supremo. Fixou o post na rede social X — claro, para que ninguém esqueça o roteiro de vitimização — e escreveu: “Parabéns pelo que fez na história brasileira, Mauro Cid!” A tentativa de transformar o delator em bode expiatório revela, mais uma vez, a estratégia desesperada da direita: culpar a quem chamou a conta a pagar.
Reações e contradições
Os aliados de Cid não engoliram a narrativa fácil. Eles foram diretos: “quem colocou todo mundo nessa confusão foi Bolsonaro”, disseram, lembrando que Cid relutou antes de firmar a delação, por manter admiração pelo ex-capitão. Ou seja: não foi traição; foi a investigação juntando fatos e provas. Enquanto isso, a direita tenta transformar o resultado de um processo judicial em espetáculo político, como se o direito penal fosse um debate de torcida organizada.
O escândalo é do próprio bolsonarismo, não de quem falou a verdade. A acusação de Carlos busca desmontar o processo moralizando a delação, mas ignora o que interessa: o conteúdo das provas e a decisão colegiada do STF. Se há um responsável pelo caos institucional e pela tentativa de golpe, ele tem nome — Jair Bolsonaro — e foi condenado por isso.
O veredito e suas consequências
Na noite de quinta-feira, a 1ª Turma do STF condenou Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão pela trama golpista. A pena é histórica — e justa diante das agressões à democracia. A defesa de Bolsonaro já está nos recursos, alegando excesso, e tenta, como sempre, transformar o sistema judiciário num palco para clamar impunidade: pediu prisão domiciliar e promete apelos intermináveis. Mas a decisão da turma deixa claro que há limites: a democracia não é jogo.
Mauro Cid, por sua vez, recebeu pena de 2 anos em razão da delação premiada e da colaboração com as investigações da Polícia Federal. Advogados do militar anunciaram medidas imediatas: pedir a retirada da tornozeleira eletrônica e a devolução de bens apreendidos, incluindo o passaporte. Os advogados informaram ao blog que a primeira medida deles vai ser pedir a retirada da tornozeleira eletrônica e a devolução de bens de Cid que estão apreendidos, o que inclui o seu passaporte. Também foi comunicado que Cid pediu para ir à reserva e aguarda o posicionamento do Exército. Seria muita coincidência transformar o delator em “vilão” quando quem deveria responder é o chefe do esquema?
A direita, com seu casamento com setores militares e fanáticos, tenta colocar a culpa em quem colaborou com a justiça. Mas a narrativa é frágil: Cid teve ganho de pena reduzida por colaborar. O que o clã Bolsonaro tenta vender é a velha retórica de perseguição — já gasta e sem lastro democrático.
O momento é, portanto, de combate político e de organização popular. Enquanto os bolsonaristas se debatem em acusações internas e em tentativas de blindagem, cabe à esquerda e aos democratas fortalecerem as instituições e ampliarem a mobilização em defesa da justiça social e do Estado de direito. A condenação é um marco, mas não será suficiente sem políticas que revertam as agressões neoliberais e as privatizações que a direita tanto cultiva.
A ofensiva de Carlos Bolsonaro é, no fim das contas, mais uma peça da estratégia de deslegitimar as instituições que punem seus crimes. A melhor resposta é política: consolidar uma frente antifascista, ampliar a luta por mudanças estruturais e não permitir que a direita revire o jogo por meio de histerias midiáticas. O que está em jogo não é só um réu poderoso, mas o futuro da democracia e a capacidade de um povo organizado de transformar condenações judiciais em avanços populares reais.