luta socialista

Cláudio Castro canta ‘Evidências’ em jantar ao lado de Alexandre de Moraes: entre música e política

Na sexta-feira à noite, num jantar oferecido após um seminário do Grupo Lide — aquele clube dos poderosos liderado por João Doria — o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), decidiu mostrar que também tem voz: cantou “Evidências”, o clássico que virou hino sertanejo. Ao lado do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, o governador tratou a serenata como se estivesse em um karaokê dos amigos da elite. Mas será que era só música? Ou seria mais um gesto de subserviência política em tempos de rearranjos e acordos por baixo da mesa?

Canções, confiança e dissabores políticos

A cena tem um gosto ácido quando lembramos que Castro é figura de confiança do bolsonarismo — ao menos até o ponto em que Jair Bolsonaro desconfia de relações íntimas demais com ministros do STF. Não é ironia pouca: Bolsonaro, segundo relatos, teria até vetado a candidatura de Castro ao Senado por achar que ele “não teria coragem” para participar de um processo de impeachment contra ministros, especialmente Alexandre de Moraes. Ou seja: canta bem, mas, para Bolsonaro, falta coragem para o que realmente importa no jogo agressivo da extrema direita.

“Impunidade, omissão e covardia são caminhos falsos e não resolvem problemas”, disse recentemente Alexandre de Moraes, lembrando o papel que o Judiciário quer imprimir — e reforçando a tensão entre poderes. E do outro lado, “Defendo um Judiciário livre de ativismo e critico decisões que ultrapassam a lei”, afirmou André Mendonça, exibindo a retórica que agrada às alas que se dizem guardiãs da ordem, mas que também servem de escudo para interesses reacionários. No meio desse balé institucional, um convidado cochichou no ouvido de uma autoridade: “nossa, ele canta melhor do que o Barroso”, comparando o desempenho de Castro a Luís Roberto Barroso, outro magistrado que não dispensa um microfone em eventos festivos.

O episódio revela algo maior do que a simples vaidade musical: mostra como setores do poder misturam entretenimento e conchavos. Governadores que pertencem ao PL, aliados de Bolsonaro, buscando afagos no Judiciário; ex-governadores hoje em papéis de empresários; seminários que viram palco para reforçar alianças e tratar de interesses privados. Não é cena improvisada — é o script da elite tentando recompor suas estruturas de poder depois das eleições e da crise institucional.

Enquanto a direita se rearticula ao som de “Evidências”, o povo segue sem respostas concretas para seus problemas. Precisamos perguntar: que tipo de acordo se costura quando as luzes se apagam e o violão fica no braço de quem tem mais a perder com a democracia em movimento?

O momento exige mais do que indignação nas redes sociais. Lula e o PT representam, para nós, não apenas uma alternativa eleitoral, mas o centro de um movimento que pode transformar esse cenário e empurrar a luta por políticas públicas, estatais fortes e contra as privatizações! Não aceitaremos trocas de gentilezas entre governantes e ministros como se fossem soluções políticas. A música é bonita, a foto é simpática, mas o que importa é a política concreta: empregos, serviço público, soberania sobre nossos recursos, e um Judiciário que responda aos interesses populares, não aos caprichos da elite.

Se o bolsonarismo teme quem conversa demais com o STF, é porque sabe que as relações de poder podem mudar. Mas a tarefa da esquerda não é apenas observar os rearranjos — é empurrar para que essas mudanças favoreçam o povo, não os acordos entre partidos e tribunalões. A canção de Castro pode até arrancar aplausos no salão; o que não pode é servir de cortina de fumaça para a manutenção de privilégios e projetos de destruição das estatais.

No fim das contas, ficou claro: há música para entreter, e há política para transformar. E é essa última que deve nos mobilizar — com crítica, organização e disposição para enfrentar a direita e seus jogos de bastidor. Afinal, é na luta que se muda o roteiro, não nos jantares em que trocam-se elogios e promessas vazias.

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