A Câmara tenta agora transformar em processo administrativo aquilo que, para muita gente, foi um espetáculo de selvageria política orquestrada por setores da direita bolsonarista. Não se trata apenas de uma briga interna: é a resposta institucional às tentativas de minar o funcionamento do parlamento e de normalizar a intimidação como ferramenta política. O presidente do Conselho de Ética, deputado Fábio Schiochet (UNIÃO-SC), anuncia que quer agilizar a análise das denúncias já na próxima semana — mas será que a velocidade do procedimento estará à altura da gravidade dos fatos?
O trâmite em andamento
“Deve chegar na segunda-feira. Assim que chegar, tenho 72 horas para analisar. Devo fazer uma grande reunião na qual teremos a escolha do relator e instauração dos processos”, disse Fábio Schiochet. Ele ainda informou que “os relatores terão 48 horas para apresentar parecer.” Tudo isso se inicia com o envio dos requerimentos à Corregedoria da Câmara e passa pelo Conselho de Ética, que poderá recomendar suspensões de até seis meses e, posteriormente, até pedidos de cassação. Não há espaço para impunidade diante de ataques à própria instituição democrática!
Fábio Schiochet classificou como “horrível” o ato de impedir fisicamente a entrada do presidente da Câmara à Mesa. “Tem que ver como vai ser o entendimento do relator, mas o processo é cabível de aceitar. Bloquear fisicamente a entrada do presidente da casa… Não poderia nem de outro deputado, quanto mais do presidente”, declarou. Palavra dura, e bem-vinda — pelo menos no plano retórico. Mas será que teremos firmeza real ou mais teatro para acalmar a opinião pública enquanto a direita segue com sua agenda de destruição das instituições?
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), encaminhou representações disciplinares à Corregedoria contra 14 deputados de oposição envolvidos na obstrução dos dias 5 e 6 de agosto. O corregedor da Câmara, deputado Diego Coronel (PSD-BA), vai analisar as representações contra os seguintes parlamentares: Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido; Carlos Jordy (PL-RJ); Nikolas Ferreira (PL-MG); Zucco (PL-RS), líder da minoria; Allan Garcês (PP-MA); Caroline de Toni (PL-SC); Marco Feliciano (PL-SP); Domingos Sávio (PL-MG); Marcel Van Hattem (Novo-RS), líder do partido; Zé Trovão (PL-SC); Bia Kicis (PL-DF); Paulo Bilynskyj (PL-SP); Marcos Pollon (PL-MS); Julia Zanatta (PL-SC).
O envio à Corregedoria não é um detalhe burocrático: é a abertura formal do caminho que pode levar à suspensão de mandatos e ao afastamento de deputados que, voluntariamente, transformaram a Câmara em palanque e trincheira para projetos autoritários. A esquerda e a sociedade precisam acompanhar cada passo! Quem acha que bastam mensagens no WhatsApp e notas de repúdio não entendeu que estamos diante de um campo de batalha político-institucional.
Que lição tirar daqui? Primeiro, que a direita continua usando táticas de intimidação e espetáculo para avançar seu projeto antidemocrático — e isso exige resposta firme. Segundo, que é urgente fortalecer os instrumentos de punição e responsabilização dentro das casas legislativas, sem cair no conto da neutralidade que sempre favorece os poderosos. A direita precisa ser desmantelada politicamente, ponto final!
O episódio também é um teste para aqueles que se colocam como alternativa ao bolsonarismo. Lula e o PT têm um papel central não apenas nas urnas, mas na articulação de uma resistência que avance para além do eleitoral, rumo a transformações profundas na sociedade. Mobilização, vigilância e pressão institucional são necessárias para que a narrativa de impunidade não prospere. Se a Câmara falhar em punir os responsáveis, será mais um sinal de que os mecanismos de controle continuam frágeis — e de que a luta deve se intensificar nas ruas e nas esquerdas organizadas. Afinal, vamos permitir que a casa seja tomada por baderneiros do capital ultrarreacionário? Ou vamos barrar essa ofensiva com coragem e unidade?