A CPMI do INSS deu mais um passo na investigação do escândalo conhecido como Operação Sem Desconto — e o resultado não poderia ser mais revelador da crise moral que corrói nosso país. Em votação nominal, com 26 votos favoráveis e nenhum contrário, a Comissão aprovou o encaminhamento de pedido de prisão preventiva à Polícia Federal para investigados e citados na operação, que apura o desvio bilionário de aposentadorias. O pedido de prisão, assinado pelo relator Alfredo Gaspar (União-AL), foi motivado pela ausência, até agora, de medidas mais duras por parte da própria investigação. “Diante dos evidentes riscos à ordem pública, à conveniência da instrução criminal e à garantia de aplicação da lei penal, representamos pela prisão preventiva dos investigados acima consignados”, afirmou o relator.
O episódio expõe duas verdades que a direita tenta varrer para debaixo do tapete: primeiro, que há uma quadrilha envolvida em saquear o que é dos trabalhadores; segundo, que só uma pressão política consistente e instituições firmes conseguem abrir caminho para responsabilização. Os nostálgicos do mercado e do bolso dos bilionários tremem, mas a luta por justiça social avança quando a cobrança é feita com firmeza.
Veja a lista das pessoas com pedido de prisão preventiva aprovado: Andre Paulo Felix Fidelis, Eric Douglas Martins Fidelis, Cecilia Rodrigues Mota, Virgilio Antonio Ribeiro de Oliveira Filho, Thaisa Hoffmann Jonasson, Maria Paula Xavier da Fonseca Oliveira, Alexandre Guimaraes Antonio Carlos Camilo Antunes, Rubens Oliveira Costa, Romeu Carvalho Antunes, Domingos Savio de Castro, Milton Salvador de Almeida Junior, Adelinon Rodrigues Junior, Alessandro Antonio Stefanutto, Geovani Batista Spiecker, Reinaldo Carlos Barroso de Almeida, Vanderlei Barbosa dos Santos, Jucimar Fonseca da Silva, Philipe Roters Coutinho, Mauricio Camisotti e Marcio Alaor de Araújo.
Protesto da base
A sessão ganhou contornos dramáticos durante a oitiva do advogado Eli Cohen, um dos primeiros a denunciar o esquema. O relator havia proposto que o requerimento fosse votado ao final do período de perguntas — uma decisão que parecia respeitar os ritos, até que o segundo deputado que questionou o depoente levou a sessão ao limite. O presidente Carlos Viana (Podemos-MG) interrompeu o trâmite e determinou a votação imediata. A pressa irritou parte da base, que protestou porque o relator não incluiu o nome do ex-ministro da Previdência e ex-presidente do INSS Ahmed Mohamad Oliveira Andrade (na época, José Carlos Oliveira). Ou seja: a mesma imprensa que mostra a podridão tenta agora enquadrar a investigação em limites — claro, sempre em defesa dos poderosos.
Confusão
A aprovação provocou uma cena que diz muito sobre o clima político atual: a deputada Coronel Fernanda (PL-MT) aplaudiu efusivamente e comemorou a vitória, enquanto a senadora Leila Barros (PDT-DF) se indignou, alegando que a base também havia aprovado a proposta e que a comemoração era extemporânea. As duas se enfrentaram em voz alta até que colegas intervieram para acalmá-las. “aprovamos, aprovamos”, celebrou a deputada Coronel Fernanda enquanto a discussão se acirrou.
O episódio demonstra que a disputa não é só entre criminosos e investigadores: é uma batalha política entre quem quer enterrar as denúncias e quem ousa enfrentá-las. E aqui temos uma lição clara — a esquerda organizada, com coragem e visão estratégica, não pode apenas esperar que a justiça faça seu papel: é preciso mobilizar apoio social, proteger instituições públicas e garantir que o combate à corrupção seja parte indissociável da luta contra as políticas neoliberais.
O Brasil precisa transformar essas investigações em política concreta: fortalecer o INSS, defender as estatais e barrar qualquer tentativa de privatização que só enriquece os de sempre. Não basta prender os peões; é preciso desarticular a cadeia que protege os mandantes. Para isso, Lula e o PT, juntamente com movimentos populares, devem ampliar a ofensiva democrática e social — porque enfrentar a direita é também reconstruir o Estado para servir ao povo, não aos cofres dos poderosos. A CPMI avançou, mas a luta por justiça e pela retomada de um projeto popular continua.