A nomeação de Emmanoel Schmidt Rondon para a presidência dos Correios, aprovada pelo Conselho de Administração e indicada pela Casa Civil com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chega em um momento de emergência para a estatal. Não é só uma troca de comando: é um sinal de que o governo reconhece o problema e tenta colocar alguém com experiência no setor público para enfrentar o rombo — mas será que isso basta diante do ataque contínuo à força das estatais e da pressão privatizante da direita?
Prejuízo bilionário
Os números falam por si: os Correios acumularam R$ 4,3 bilhões de prejuízo no primeiro semestre de 2025, com R$ 2,6 bilhões só no segundo trimestre — quase cinco vezes o déficit do mesmo período do ano anterior — e R$ 1,7 bilhão já no primeiro trimestre. Os Correios foram a estatal que liderou o rombo em 2024, com prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre. A disparada das despesas administrativas — R$ 3,4 bilhões até junho, um salto de 74% em relação ao ano anterior — alimenta parte do estrago, com gastos crescentes em pessoal e precatórios. Parte dessa alta decorre de reajustes salariais a mais de 55 mil trabalhadores e do acúmulo de dívidas judiciais que se transformaram em bomba financeira.
Alguém ainda acha que a solução é vender? Que privatizar seria a saída mágica para “arrumar as contas”? Essa narrativa simplista, repetida pela direita e pelos defensores dos interesses dos grandes grupos privados, não passa de ideologia mascarada de eficiência. Privatização refere-se a lucro e transferência de patrimônio público para mãos privadas — é abrir espaço para que bilionários lucrem com serviços essenciais, enquanto a população paga a conta em forma de tarifas, desemprego e perda de controle sobre políticas públicas.
Quem é o novo presidente
Emmanoel Schmidt Rondon vem do Banco do Brasil, onde é funcionário de carreira e ocupa posições executivas desde 2017, com mais de 25 anos de experiência no setor financeiro e um MBA em Administração de Empresas. Sua trajetória inclui atuação em gestão estratégica, governança, transformação digital e projetos de eficiência operacional. Ele sucede Fabiano Silva, que apresentou sua demissão em 4 de julho e deixou o cargo à espera de um sucessor para a transição; a posse de Emmanoel está prevista para o início da próxima semana.
Colocar um técnico do setor público para tocar a estatal é um passo sensato — mas não será suficiente se for apenas para “arrumar as contas” com cortes que penalizem trabalhadores e usuários. Precisamos de um plano que una gestão responsável com compromisso político: capitalização pública quando necessária, renegociação de precatórios com critérios sociais, luta contra terceirizações que precarizam e investimento em logística e tecnologia para fortalecer o serviço postal como bem público.
O governo Lula e o PT têm responsabilidade central nessa batalha. Não se trata apenas de administrar déficits; trata-se de reafirmar que o Estado existe para garantir direitos, emprego e soberania sobre serviços estratégicos. Como militante socialista, não confundo pragmatismo com capitulação: apoiar a indicação de um gestor público significa cobrar transformação profunda, não condescendência com a lógica do mercado.
Defender estatais é defender serviços públicos e o trabalho de milhares de brasileiros — não entregar tudo aos bilionários e suas mãos invisíveis. Portanto, a chegada de Emmanoel é oportunidade para retomar um projeto público e democrático dos Correios: reestruturar sem cortar direitos, modernizar sem privatizar, ampliar serviços sem abrir mão do papel social da estatal. Será necessário o envolvimento dos trabalhadores, da juventude e das forças populares para vigiar cada passo e impedir que a direita transforme a crise em pretexto para saque.
O próximo presidente dos Correios terá pela frente o desafio técnico de equilibrar contas e o desafio político de resistir às investidas privatistas. A tarefa é gigante — e exige estratégia, mobilização e firmeza ideológica. Vai ser nos próximos meses que saberemos se essa nomeação será apenas mais um paliativo tecnocrático ou o começo de uma recomposição democrática e popular dos serviços públicos no Brasil. Quem não luta por isso, está do lado de quem quer lucrar com o desmonte. E nós não aceitamos essa venda do patrimônio nacional!