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Empresários Brasileiros Enfrentam Investigação Comercial dos EUA em Audiência em Washington

Uma comitiva de empresários brasileiros desembarca em Washington nesta quarta-feira (03) para participar de uma audiência pública no Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) — palco da investigação aberta sob a famigerada Seção 301 da Lei de Comércio de 1974. Não é uma viagem turística: é a resposta do capital nacional ao chamado dos EUA, numa trama que mistura nacionalismo econômico ianque, retaliações tarifárias e uma ponta de teatro político para consumo das plateias domésticas e internacionais.

Investigação e resposta brasileira

A apuração foi iniciada em julho a pedido do então presidente Donald Trump, que acusou o Brasil de prejudicar empresas norte-americanas em áreas como sistemas de pagamento (PIX), etanol, propriedade intelectual e políticas ambientais relacionadas ao desmatamento. Na prática, Trump já havia anunciado um “tarifaço” — sobretaxas da ordem de 50% sobre uma série de produtos brasileiros — que quase inviabilizam as exportações desses itens. Como sempre, a política externa hegemônica chega com pancada e sem explicação democrática: quem manda, impõe.

“O Brasil insta o USTR a reconsiderar o início desta investigação e a iniciar um diálogo construtivo. Medidas unilaterais previstas na Seção 301 podem comprometer o sistema multilateral de comércio e ter consequências adversas para as relações bilaterais”, escreveu o governo brasileiro. Em outra parte da defesa protocolada em 18 de agosto, o Brasil afirmou que “não adota políticas discriminatórias, injustificáveis ou restritivas ao comércio com os EUA”, argumento técnico que tenta neutralizar a retórica belicosa de Washington.

O tarifaço já provoca aumento de preços nos EUA e impacto direto no mercado brasileiro. Quem perde com isso? Trabalhadores, consumidores e pequenas e médias indústrias que dependem das exportações — não os bilionários que financiam campanhas e lobby.

A comitiva empresarial em ação

Curiosamente, não há representantes do governo federal nessa etapa; quem vai a Washington são empresários e líderes setoriais. A agenda inclui audiências no USTR, reuniões no Capitólio, encontros bilaterais com parceiros norte-americanos e até uma audiência com a embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Luíza Ribeiro Viotti. A lista dos setores e empresas é representativa: Abimaq (máquinas e equipamentos), Abrinq (brinquedos), Abal (alumínio), Abiec (carnes), Abimci (madeiras), Cecafé (café), ABFA (ferramentas), Anfacer (cerâmica), CentroRochas (rochas) e CICB (couro). Entre as empresas: Tupy, Embraer, Stefanini, Novelis e Siemens Energy. Dirigentes de oito federações estaduais da indústria — incluindo Fiesp e Firjan — também integram a comitiva.

Empresários pressionam nos corredores do poder estrangeiro; quem deveria liderar a defesa dos interesses nacionais? Enquanto isso, nas redes, bolsonaristas fazem drama e ameaçam com embargos como se estivéssemos num filme de conspiração. Mas a verdade é que quem sofre as medidas são as cadeias produtivas reais, e a resposta nacional exige mais do que petições corporativas em salas climatizadas.

O risco é claro: se o USTR concluir que o Brasil adota práticas desleais, os EUA podem ampliar tarifas, suspender benefícios comerciais e acionar outras retaliações. Se não encontrarem irregularidades, podem reduzir as medidas. Em suma, o processo é tanto jurídico quanto político — e é aí que entra a disputa real sobre soberania, desenvolvimento e independência.

A batalha não é só entre Brasil e EUA; é também sobre quem define o futuro do país: se a lógica entreguista dos defensores de privatizações e do capital externo, ou um projeto nacional que fortaleça estatais, proteja empregos e enfrente os privilégios dos bilionários. Lula e o PT, apesar de contraditórios para uns, representam hoje a chance de empurrar essa discussão para uma etapa mais organizada de disputa política e econômica. Que não se esqueça: quem defende soberania não pode fazer isso com as mãos atadas ao grande capital.

No fim das contas, a ida dos empresários aos corredores do USTR é um termômetro: mostra quem está disposto a negociar no balcão do imperialismo e quem pretende organizar uma resposta popular e soberana. O resto é jogo de cena — e a arena real segue sendo nas fábricas, nos campos e nas ruas, onde se decide o futuro do país. Quem vai tomar posição? Quem organiza a resistência? As respostas virão, e não será em um tribunal estrangeiro que construiremos soberania.

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