A escalada de ingerência americana no caso Bolsonaro chega com ares de comédia trágica: enquanto o ministro Alexandre de Moraes se prepara para decidir sobre o recurso que pede a revogação da prisão domiciliar do ex-presidente, a equipe do ex-morador da Casa Branca faz campanha pública para libertá‑lo. É impossível não ver nisso uma tentativa descabida de tutelar a política brasileira — uma intromissão que ofende a soberania e alimenta o teatro da extrema direita transnacional.
Recurso da defesa de Bolsonaro
Os advogados de Jair Bolsonaro pediram a revogação da prisão domiciliar e, caso Moraes não acate o pedido, querem que o recurso seja levado ao plenário dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal, e não apenas julgado na Primeira Turma. Moraes, antes de decidir, vai solicitar um parecer da Procuradoria‑Geral da República (PGR). Dentro do STF, reconhece‑se que havia base técnica para a prisão — pelo descumprimento das medidas cautelares sobre o uso das redes sociais —, mas muitos ministros avaliam que o caso não configura crime tão grave a ponto de inflamar ainda mais a crise política.
“Não vamos desistir nem parar até que Bolsonaro esteja livre,” disse Jason Miller, conselheiro de Donald Trump — frase reproduzida à exaustão pelos seguidores do bolsonarismo e pelo próprio filho do ex‑presidente. Que simbólica cena: o defensor das fake news internacionais e seu exército de mídia privada batendo panela digital em nome da “liberdade” de quem atacou as instituições do país!
A interferência externa no nosso sistema judicial é afronta à soberania nacional — e não pode ficar sem resposta firme do Estado brasileiro. O governo Lula reagiu com indignação. “Vemos essas postagens como novo ataque à nossa soberania e à democracia,” disse o Palácio do Planalto, ao considerar as mensagens vindas de Washington como mais um capítulo da ofensiva contra o processo democrático brasileiro.
No STF, há um cálculo político-jurídico em curso: muitos ministros preferem desinflamar o ambiente, eventualmente submetendo a decisão à Primeira Turma para não transformar o caso num pleito de forças que alimentaria ainda mais os radicais. Moraes, nesse tabuleiro, terá de conciliar técnica jurídica e a necessidade de preservar a ordem democrática.
Ingerência política e ofensiva econômica
Enquanto isso, a Casa Civil e ministros técnicos de Lula fecham os últimos detalhes de um plano de contingência para enfrentar o que o governo chama de “tarifaço” vindo dos Estados Unidos. A expectativa oficial é de que os norte‑americanos não avancem com novas medidas comerciais — o que levou Brasília a abandonar retaliações imediatas. Mas será que aceitamos calados qualquer sanção que nos pressione a rasgar direitos sociais ou privatizar o que resta das empresas estatais? Claro que não!
Não permitiremos que chantagens comerciais sirvam de pretexto para cortar investimentos públicos ou entregar estatais ao mercado dos bilionários internacionais. Esse é o ponto que o governo Lula — e nós, que não trocamos a soberania por tapinhas nas costas de Washington — precisa manter claro: solidariedade com a indústria nacional, defesa das empresas públicas e proteção aos setores mais vulneráveis.
A cena global que se forma é cristalina: a direita conservadora internacional, com Trump à frente, tenta puxar o Brasil de volta para o pântano autoritário; aqui, no país, as forças democráticas e progressistas se organizam para barrar essa guinada. Lula e o PT têm diante de si uma chance histórica de transformar reações táticas em ofensiva estratégica pela reconstrução do Estado e do projeto popular — e precisamos estar prontos para empunhar essa bandeira com vigor.
Moraes decide; o governo define o socorro econômico; e a militância democrática tem de se manter atenta e na rua. A hora é de resistência e de unidade contra a direita, seus financiadores e suas interferências externas. Quem acha que a democracia tolera gracinhas imperialistas não entendeu nada: daqui não se sai sem luta, sem soberania e sem defender o que é do povo.