O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parte neste domingo para Nova York, onde participará da Assembleia Geral da ONU e organizará, junto com Espanha, Chile, Colômbia e Uruguai, um encontro paralelo para debater formas de fortalecer a democracia frente aos extremismos. A novidade que salta aos olhos — e que escancara a linha de ruptura com as forças do atraso — é que, desta vez, os Estados Unidos ficaram de fora da foto: os EUA não foram convidados para o ato que tenta proteger a democracia das milícias e dos golpistas.
Contexto e picaretagem diplomática
Lula fará o discurso de abertura na terça-feira (23) e leva à ONU a voz de uma coalizão de países da região que, pelo segundo ano seguido, prefere encarar o problema dos extremismos sem a tutoria de Washington. No ano passado, quando esse fórum foi realizado pela primeira vez, os EUA enviaram representantes sob a administração de Joe Biden. Agora, com Donald Trump como presidente, a relação entre Brasília e Washington azedou de vez: Trump impôs tarifas de 50% sobre vários produtos brasileiros e, como justificativa pública, alega que a Justiça do Brasil estaria “perseguindo” Jair Bolsonaro, seu aliado ideológico.
A ofensiva de Trump não é só retórica: é pressão econômica e política para proteger um aliado que foi justamente condenado por tentar um golpe. Bolsonaro recebeu do Supremo Tribunal Federal a pena de 27 anos e 3 meses de prisão por ter tentado permanecer no poder após perder as eleições de 2022. O que assistimos? Uma tentativa de transformara solidariedade a criminosos políticos em política externa; e a resposta de países democráticos da região é dizer: chega!
“Nenhum dos organizadores nem sequer cogitou convidar os EUA,” disseram auxiliares do governo sobre a exclusão norte-americana. A decisão tem um peso simbólico e prático: reafirma a autonomia do bloco progressista latino-americano e demonstra que proteger a democracia passa por romper com as amizades perigosas com quem financia e promove os autoritarismos.
Repercussões e riscos
Em julho, os organizadores fizeram uma prévia do encontro em Santiago, no Chile, e agora repetem a aposta em Nova York. É um desafio direto ao bolsonarismo e aos seus padrinhos internacionais. Não por acaso, as relações bilaterais entre Brasil e EUA estão em crise aberta: além das tarifas, houve a ameaça de novas sanções americanas — “autoridades dos EUA prometeram novas sanções contra o Brasil” — um gesto que mistura vingança geopolítica com proteção de interesses privados e de aliados ideológicos.
Enquanto isso, no front interno, decisões do Executivo e posicionamentos de aliados contam: houve desistências e recuos na comitiva, como a notícia de que o ministro Padilha decidiu não viajar para os Estados Unidos. Pequenos gestos que revelam o clima pesado e o aperto da guerra de influência que se travam nos bastidores.
É importante lembrar: não se trata apenas de orgulho diplomático. Trata-se de enfrentar um adversário que quer revogar direitos, privatizar o que resta das estatais e enterrar qualquer projeto de soberania popular. E, claro, de enfrentar quem faz do bolsonarismo uma plataforma exportável de ódio e retrocesso. Essa é uma disputa entre democracia e autoritarismo, e o campo democrático precisa se posicionar com clareza.
O encontro paralelo em Nova York é, portanto, uma peça nessa batalha maior — uma demonstração de que os países da região podem articular respostas autónomas às ameaças externas e internas. Lula e o PT aparecem não só como representantes eleitorais, mas como atores centrais desse novo capítulo de luta política. Resta ao movimento popular e às esquerdas organizadas transformar essas janelas diplomáticas em políticas concretas: defesa das estatais, combate às privatizações, fortalecimento das instituições e mobilização social contra os tentáculos do bolsonarismo. Afinal, democracia não se negocia — se defende nas ruas, nas urnas e nas instâncias internacionais!