Enquanto Washington vai fechando as portas para o Brasil — como ficou claro no cancelamento da conversa remota entre o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad — Pequim abre os braços e se consolida cada vez mais como o parceiro estratégico preferencial. É a foto da realidade internacional: um país que aposta no diálogo multilateral e nas parcerias produtivas; outro que recua ao protecionismo e à política externa de obstáculos. A China se abre e vira cada vez mais o parceiro preferencial.
Governo americano cancela reunião do Secretário do Tesouro com Haddad
O gesto de Washington — simples e simbólico — não é incidente: é sinal de uma virada. Para assessores presidenciais, a suspensão da agenda com Bessent confirma que os Estados Unidos caminham para um protecionismo explícito, voltando às práticas que corroem o próprio argumento de uma “economia aberta” que costumavam vender. “É um sinal dos tempos.” — disse um auxiliar de Lula. E essa mudança tem consequências diretas para nossa indústria e exportações.
A equipe do presidente Lula interpreta o episódio como reforço da tese de cautela política em relação a Donald Trump. Não se trata de birra: trata-se de geopolítica. “Está claro que Trump está focando no Brasil por questões políticas e não comerciais.” — avaliou um assessor presidencial. Ou seja: qualquer gesto conciliatório seria, no máximo, um truque de cena, um teatro sem efeito real para proteger nossos interesses econômicos.
Sem efeito
O caso do primeiro-ministro indiano Narendra Modi é citado como aviso prático: ele fez o roteiro tradicional — telefonou, conversou, foi à Casa Branca — e o resultado foi o mesmo: tarifas elevadas. “De nada adiantou: Modi foi à Casa Branca e ainda enfrenta a mesma alíquota de 50% do Brasil.” — resumiu outro assessor. Um recado claro: quando os EUA decidem mirar em produtos e países, nem ligação presidencial salva. Por que então aceitar ser playboy da diplomacia americana enquanto perdemos fôlego na economia real?
Enquanto isso, do outro lado, a China avança no diálogo com Lula. Xi Jinping conversou com o presidente brasileiro e afirmou disposição para fortalecer um plano de autossuficiência do Sul Global, ampliando laços com países asiáticos. Para nós, que defendemos estatais, soberania e cooperação entre países em desenvolvimento, isso tem sabor de vitória política: parcerias que não condicionam nossa capacidade de planejar o desenvolvimento.
Os auxiliares de Lula também não deixam barato a campanha de setores da extrema direita contra o país. Criticaram o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por reclamar da falta de uma ligação presidencial a Trump e foram diretos: “Antes de criticar o presidente, Tarcísio de Freitas deveria ligar para o deputado Eduardo Bolsonaro e pedir para ele encerrar a campanha contra o Brasil.” A mensagem é clara: enquanto a família Bolsonaro e seus aliados tentam sabotar relações exteriores para alimentar narrativas internas, o governo precisa proteger a economia real e as exportadoras.
A escolha política de Lula e do PT — não apenas como projeto eleitoral, mas como parte de uma nova etapa de luta anticapitalista no Brasil — se demonstra acertada: reagir com soberania, buscar parcerias que respeitem nossos interesses e acionar o Estado para socorrer quem está sendo esmagado por tarifas externas. O tarifaço virou realidade para as exportadoras brasileiras e elas vão precisar de socorro. “O fato é que chegou a hora de agir, porque o tarifaço virou realidade para as exportadoras brasileiras e elas vão precisar de socorro.” — lembraram assessores.
Não podemos confiar nas boas intenções dos bilionários e da mídia conservadora que quer nos empurrar de volta às privatizações e ao desmonte do Estado. É hora de fortalecer cadeias internas, proteger empregos, ampliar mercados com parceiros que respeitam nossa soberania e usar toda a capacidade do Estado para mitigar os impactos. Lula e o PT têm diante de si a oportunidade — e a responsabilidade — de transformar um aperto externo em impulso para um projeto nacional popular. Quem faz política com audácia e soberania, não de joelhos, avança. E contra essa direita rasteira, não recuaremos um centímetro.