A detenção de Carla Zambelli em Roma abre mais um capítulo nesse embate político que expõe, de forma clara, como as engrenagens do bolsonarismo estão sendo desmontadas passo a passo. A ex-deputada, condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal por invasão hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça, agora enfrenta a Justiça italiana, que manteve sua prisão preventiva no presídio de Rebibbia. Esse desdobramento põe em xeque não apenas a sua liberdade, mas o próprio discurso de impunidade que a extrema-direita vinha tentando vender ao país.
O que está em jogo agora?
Com a prisão mantida pelo Tribunal de Apelação de Roma, o processo de extradição entra em cena. O Brasil já formalizou o pedido para que Zambelli cumpra sua pena em solo nacional, mas o percurso pode se arrastar por até dois anos. São duas instâncias na Itália — a Corte de Apelação e a Corte de Cassação — seguidas de decisão final do ministro da Justiça italiano, que pode autorizar ou vetar o envio por “motivos políticos”.
Enquanto isso, a Advocacia-Geral da União (AGU), convocada pelo ministro Alexandre de Moraes, articula todas as medidas para assegurar a extradição. A Procuradoria de Assuntos Internacionais da AGU pode até contratar advogados locais para acompanhar o caso, repetindo a estratégia usada nos processos contra os golpistas de 8 de janeiro. É um jogo de paciência e pressão diplomática, mas que demonstra que o Estado brasileiro — sob liderança progressista — está disposto a não dar sossego aos seguidores de pautas autoritárias.
“Confiamos na Justiça italiana”, afirmou o embaixador brasileiro no país, Renato Mosca. Essa confiança, porém, não chega sem ressalvas: o bolsonarismo transitou por várias fronteiras acreditando na impunidade, espalhando fake news e tentando corroer instituições democráticas. A ida de Zambelli à Itália não foi um simples passeio: ela deixou o país no final de maio, passou pela Argentina e pelos EUA, na tentativa de escapar da condenação transitada em julgado.
As próximas etapas e os cenários possíveis
Se a extradição for aprovada, Zambelli vem na força de um mandado internacional para cumprir pena no Brasil. Caso contrário, pode ser julgada pela Justiça italiana, onde ainda não há um acordo automático para reconhecimento de sentenças estrangeiras. Essa demora de até dois anos pode ser usada como palanque midiático pela extrema-direita, mas não ilude mais: a narrativa de que “perseguição política” justifica qualquer ilegalidade já não cola nem entre seus eleitores mais fiéis.
Enquanto aguardamos o desenrolar do processo, vale lembrar o motivo de toda essa situação: a invasão hacker ao CNJ em janeiro de 2023, crime que envolveu revelação de dados sensíveis e atentou contra a independência do Judiciário. Zambelli foi condenada por unanimidade na Primeira Turma do STF, perdeu o mandato e passou a constar na lista de procurados da Interpol.
“Estamos atuando conforme o previsto na cooperação internacional. É um processo que pode ser longo, mas está em andamento”, afirmou uma autoridade da diplomacia brasileira. Essa atuação coordenada reforça que a virada de chave no país exige firmeza contra quem ainda sonha com o chamado “golpe institucional”.
Zambelli, por sua vez, nega as acusações e diz querer ser julgada na Itália, desqualificando o depoimento do hacker Walter Delgatti: “Ele é mentiroso”, afirmou a ex-deputada. Mas apontar um bode expiatório não muda a realidade de que, para manter a democracia e avançar em um projeto popular autêntico, é preciso enfrentar o bolsonarismo em todas as frentes — legal, política e ideológica.
Este episódio reforça a necessidade de fortalecer as instituições e blindar a sociedade contra a ofensiva de uma direita atrasada, somando forças em torno de Lula e do PT para impulsionar uma agenda que recupere as empresas estatais, amplie direitos e evite novas tentativas de retrocesso autoritário. A prisão de Carla Zambelli não é apenas a prisão de uma política acusada de crime grave — é, sobretudo, um alerta para que sigamos vigilantes e atuantes, derrubando cada barreira erguida pela extrema-direita em nossa caminhada rumo a uma sociedade mais justa.