Vivemos num tempo em que a mentira veste vermelho ou verde conforme convém aos ventrícolas do bolsonarismo — e agora até reciclam imagens antigas para tentar confundir a luta democrática. Circulou nas redes um vídeo de uma multidão na Esplanada dos Ministérios com a legenda insinuando que a cena era um ato de 7 de Setembro contra a anistia a golpistas. A peça é #FAKE: o registro verdadeiro é da posse do presidente Lula, em 1º de janeiro de 2023, quando milhões começaram a reconstruir o país que a direita tentou arrancar pela raiz. Mentir virou estratégia política; desmascarar virou tarefa de quem ama a democracia.
Como é o vídeo?
O post em questão apareceu no TikTok com a sobreposição: “No 7 de Setembro o povo brasileiro mandou o recado para os golpistas” — legenda publicada no TikTok. No trecho, a multidão, vestida em vermelho, grita repetidamente “sem anistia” — entoado por apoiadores durante o discurso de Lula na posse (apoiadores presentes). Simples, direto — e fora de contexto de forma proposital. Enquanto movimentos de esquerda fizeram atos legítimos contra qualquer anistia para responsáveis pelos crimes do 8 de janeiro, as máfias digitais da direita aproveitaram a oportunidade para plantar confusão e recuperar uma narrativa que já está tomada pela justiça.
Por que isso é #FAKE?
A checagem não é invenção de militância: o vídeo é verdadeiro, mas o contexto temporal foi adulterado. A equipe do Fato ou Fake usou a ferramenta InVID para fragmentar o material em frames e fez busca reversa com Google Lens, achando publicações antigas que comprovam a origem do registro. Foi possível localizar o momento exato na transmissão oficial do Canal Gov: 4h 30m 55s da posse de 1º de janeiro de 2023 — quando Lula denunciava os estragos do governo de Jair Bolsonaro e a plateia respondeu com o coro “sem anistia”. Apelar para truques baratos é tudo o que sobra à extrema direita quando perde o argumento e o poder.
Contexto político
A circulação dessa fake aconteceu justamente num momento tenso: a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal começou a julgar, no início de setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete acusados pela tentativa de golpe. Nos primeiros dias, foram ouvidas a acusação da PGR e as defesas; depois vieram os votos, com Alexandre de Moraes e Flávio Dino manifestando-se pela condenação dos réus, e na sequência outros ministros votando sobre a responsabilidade dos envolvidos. A mentira digital tenta capitalizar a polarização para favorecer pedidos de anistia que seriam um escárnio para a democracia e uma afronta às vítimas.
Não é coincidência: quando a direita perde nas ruas e nas urnas, recorre ao teatro das fake news e à reciclagem de imagens. Enquanto isso, a mobilização popular por justiça e memória — encabeçada por Lula e pelo PT como protagonistas de uma nova fase de luta democrática e popular — segue ocupando espaços reais, não só virtuais. Precisamos manter o foco: denunciar a trapaça, proteger a verdade e garantir que a justiça siga seu curso contra quem tentou desmontar a República.
A disputa pela narrativa é parte da luta política, mas a verdade documental, os registros e o trabalho de checagem desmantelam artimanhas rasteiras. À direita só resta a velha cartilha do ataque: privatiza-se a história e vende-se teorias de conspiração. Nós, do campo popular, continuamos reconstruindo instituições, defendendo estatais e atacando o poder dos bilionários que financiam essa máquina de mentira. Não se deixe enganar — a memória é arma e a verdade é nossa munição.