O avião que levava o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e sua comitiva teve de estender uma escala em Cali, Colômbia, depois de registrar uma falha em uma mangueira semi-hidráulica durante reabastecimento. A Força Aérea Brasileira recomendou prudência e deslocou outra aeronave para buscá-los — um contratempo técnico que virou pretexto para lembrar quem realmente ocupa os voos oficiais do país: ministros, presidentes de estatais, empresários e dirigentes da indústria. Não é só uma falha mecânica, é um retrato do Brasil que governam.
Missão comercial e o bonde dos empresários
A viagem ao México foi vendida como esforço para ampliar relações comerciais e driblar o chamado “tarifaço” externo — uma referência ao protecionismo americano que, segundo o governo, prejudica exportadores brasileiros. Na comitiva, nomes que representam a velha aliança entre Estado e grande capital: ministros como Carlos Fávaro (Agricultura) e Simone Tebet (Planejamento), além de presidentes da ApexBrasil, Conab, Anvisa, e representantes da Fiocruz, do Instituto Butantan e, vejam só, a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Empresários em busca de mercados — e de lucros — marcaram presença ao lado de técnicos e autoridades de saúde pública.
“Foi um trabalho bastante amplo e bastante proveitoso. Vou levar ao presidente Lula uma boa notícia de que o Brasil e o México estão mais próximos em benefício das nossas populações e como motor do desenvolvimento da América Latina”, disse Geraldo Alckmin ao fim da missão. A fala foi destacada pelo Ministério do Desenvolvimento como sinal de progresso nas negociações.
O objetivo prático é atualizar dois Acordos de Complementação Econômica que regulam o comércio entre Brasil e México: o ACE-55 (automotivo) e o ACE-53 (cerca de 800 linhas tarifárias não automotivas). Segundo o ministério, o ACE-53 cobre apenas 12% do fluxo bilateral — um espaço evidente para ampliar trocas, claro, mas também uma nova arena onde interesses empresariais irão bater cartão.
“A aeronave que conduzia o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e comitiva apresentou falhas em um de suas mangueiras semi-hidráulicas durante sua parada em Cali, na Colômbia, após pouso programado para reabastecimento. Embora a aeronave apresentasse condições de seguir em direção ao Brasil, a Força Aérea, como medida de cautela, recomendou que o vice-presidente estendesse sua parada até que outra aeronave fosse deslocada do Brasil para completar a missão. Uma nova aeronave decolou da Base Aérea de Brasília às 10h para buscá-los. O pouso em Brasília está previsto para cerca de 21h. Todos estão bem e em segurança“, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio em nota oficial.
Que fique claro: a defesa da vida e da segurança é prioridade — mas a cena escancara a rotina das viagens oficiais, sempre acompanhadas por um séquito do grande empresariado e pela CNI, prontos para alinhar acordos comerciais segundo suas prioridades. E quem se beneficia mais com esses acordos? Frequentemente as grandes corporações, não os trabalhadores.
Se a intenção for realmente fortalecer a América Latina como “motor do desenvolvimento”, como disse Alckmin, é preciso ir além de bonitos jantares e protocolos. É necessário colocar na mesa temas que o povo precisa: proteção aos empregos, regras claras que impeçam a desindustrialização, salvaguardas contra a exploração por multinacionais e mecanismos que priorizem serviços públicos, ciência e tecnologia nacionais — não apenas abrir mercado para o capital estrangeiro.
A viagem ao México pode ser útil, sim, se for orientada por critérios de soberania e justiça social. Cabe ao governo Lula e ao campo progressista transformar negociações em instrumentos de emancipação, e não em balcão para os interesses dos bilionários. A escala forçada em Cali foi só um pequeno atraso técnico; o verdadeiro teste será se essas conversas resultarão em acordos que favoreçam as maiorias populares ou se servirão para aprofundar privilégios de sempre. Quem decide? Nós ou o bonde dos empresários?