A absolvição de Jair Bolsonaro pelo ministro Luiz Fux neste julgamento sobre a chamada trama golpista é uma bofetada na cara da memória dos ataques de 8 de janeiro e uma demonstração cristalina de como as instituições, quando querem, sabem proteger os poderosos. Como jornalista e militante, pergunto: qual é a coerência entre a indignação retórica e a decisão que devolve ao centro do jogo político quem arquitetou ameaças à democracia? Não há uma — e isso tem consequências políticas!
A incoerência de Fux
Em agosto de 2023, ao votar pela suspensão de uma lei que tentava instituir o “Dia do Patriota”, Fux foi categórico sobre os atos de 8 de janeiro: “aversão à democracia, produzindo violência e resultando em ‘atos criminosos inimagináveis em um Estado de Direito’.” — Luiz Fux Na ocasião, ele ainda afirmou que as invasões e depredações das sedes dos Três Poderes “não poderiam ser exaltadas como demonstração de amor à pátria, mas deveriam ser lembradas com ‘repúdio constante’.” — Luiz Fux
E agora? No voto desta quarta, Fux manteve o adjetivo — chamou os atos de injustificáveis — mas não enxergou a conexão entre Jair Bolsonaro e o chamado núcleo duro que articulou a trama. Resultado: Bolsonaro absolvido, enquanto figuras como Cid e Braga Netto receberam condenações. Simples assim: culpados escolhidos, inocente convenientemente posicionada.
Antes, na votação que condenou outros golpistas, Fux sequer questionou que o processo estivesse no STF, ainda que tenha dito que deveria tramitar na primeira instância; já neste caso específico envolvendo Bolsonaro, o ministro mudou de posição e afirmou que não era caso para o Supremo. Conveniência jurídica? Manobra política? Chame como preferir — eu chamo de blindagem institucional aos artífices do ataque reacionário!
Não é ingenuidade: é escolha política. Quando a toga protege quem agrediu a democracia, quando a jurisprudência se adapta ao personagem e não à lei, fica claro que o problema não é falta de provas ou tecnicidade processual — é vontade política. E vontade política custa: custa estabilidade institucional, custa justiça, custa a verdade histórica sobre quem tentou calar o povo e derrubar a ordem democrática.
O processo de impunidade não termina na esfera jurídica. Ele reverbera no cotidiano: bolsonarismo fortalecido, discurso autoritário que respira mais aliviado, e a direita reacionária entendendo que pode apostar em estratégias além da urna. Isso exige resposta da esquerda e dos movimentos populares! Lula e o PT não são apenas a saída eleitoral — têm papel central na disputa política para desmantelar essas redes e reagrupar as forças que querem um Brasil soberano, com estatais fortes e políticas que confrontem os bilionários que financiam a barbárie.
Se a República se comporta como um bunker para os poderosos, a luta social precisa ocupar as ruas, os parlamentos e os corações. Não vamos delegar essa missão só ao judiciário — que ora julga, ora protege, conforme interesses do momento. Precisamos de mobilização organizada, pressão política e uma estratégia que una trabalhadores, mulheres, jovens e o campo popular para derrotar a direita nas urnas e na vida real.
A decisão de Fux é mais uma lição: o inimigo não dorme, inventa narrativas, manipula instâncias e se aproveita de ambivalências. Cabe a nós não aceitar esta normalização do golpismo! Vamos cobrar coerência, punir impunidade e forjar uma alternativa popular que vá além do golpe e da tecnocracia — uma alternativa que rompa com as privatizações, recupere o papel das estatais e coloque no centro a vida das maiorias. Afinal, a democracia não é um souvenir para guardar em prateleira: é uma conquista a ser defendida todos os dias!