A brasileira Alice Barbosa, mulher trans de 28 anos, foi detida de forma truculenta por agentes de imigração dos Estados Unidos no último sábado em Maryland. O caso, acompanhado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) em articulação com o Itamaraty e a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH), reúne violência policial, desrespeito ao nome social e o receio — legítimo — de que a jovem seja colocada em situação de ainda maior vulnerabilidade enquanto estiver sob custódia do ICE. Que imagem do “país da liberdade” é essa que insiste em humilhar pessoas trans e tratá-las como problema de segurança pública?
Detenção e desrespeito
Um vídeo feito por amigos mostra Alice sendo puxada para fora do carro de forma brusca. Nas imagens, um dos agentes se refere a ela pelo nome de nascimento — e é corrigido por uma mulher que acompanhava a ação. O Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) comunicou que Alice permanecerá presa até a deportação, justificando a medida por detenções anteriores “por posse de substância controlada e posse de maconha”. Mesmo diante desse histórico, nada justifica a violência física, nem o apagamento de uma identidade: tratar alguém pelo “dead name” é violência psicológica — e, quando combinado com força física, pode ser violência de gênero com consequências diretas.
“Nos solidarizamos com a cidadã brasileira, reconhecendo a coragem de todas as pessoas que, em situação de vulnerabilidade, enfrentam diariamente a xenofobia, a violência institucional e a discriminação”, afirmou o MDHC em nota, sinalizando que o Brasil acompanha o caso para garantir assistência consular e resguardar direitos. É bom que acompanhem — mas acompanhamento não é suficiente; é preciso pressão diplomática, visibilidade e denúncia constante.
Não podemos aceitar que um país parceiro trate nossos conterrâneos com tamanha desumanização!
Risco de violência
O uso do nome de nascimento pelo ICE alarma: aumenta o temor de que Alice seja encaminhada a um centro de detenção masculino, expondo-a a risco elevado de abuso e agressões. A história recente nos mostra que políticas e normas que negam as identidades trans têm consequências práticas e letais. Quando um Estado recorta pessoas em categorias binárias e punitivas, ele cria as condições para a barbárie institucional.
“A deputada federal Érika Hilton já havia relatado situação semelhante ao renovar seu visto nos EUA, sem o uso do nome social”, ressaltou a comentarista da GloboNews Flávia Oliveira, ligando o episódio ao padrão de desrespeito que atinge, com mais frequência do que se imagina, as pessoas trans brasileiras no exterior. Essa é uma violência que atravessa fronteiras e que exige resposta política.
É preciso que o governo brasileiro não só consteste essas práticas, mas que atue com firmeza diplomática para proteger brasileiras e brasileiros LGBTQIA+ em perigo no exterior.
O episódio revela também a hipocrisia das direitas que pregam “valores” e “ordem”, mas praticam a perseguição sistemática a minorias. Enquanto setores bolsonaristas e seus imitadores celebram a violência institucional, o campo popular tem a responsabilidade histórica de responder com solidariedade, proteção e organização. Lula e o PT, que representam hoje uma frente essencial contra a barbárie conservadora, devem estar na linha de frente de uma política externa que não apenas protocole notas, mas exija tratamento digno e seguro para nossas cidadãs e cidadãos.
A luta por direitos trans não cabe só nas emendas parlamentares ou em fotos protocolares: é prática internacional e diplomática. Que o caso de Alice não seja mais um número nas estatísticas do abuso! Exijamos clareza, pressão e, sobretudo, que o Brasil proteja quem precisa. A menor tolerância com essa prática é sempre cúmplice da próxima violência. Quem pensa que a extrema direita vai parar por conta própria está muito enganado — é hora de mobilizar, denunciar e agir.