O governo Lula reage ao chamado “tarifaço” de Trump com um pacote pensado para proteger a indústria nacional e o trabalho brasileiro — e com a clara intenção de transformar ataque imperialista em oportunidade para resgatar o papel do Estado como protagonista da economia. Não se trata apenas de mimimi diplomático: é defesa de mais de 10 mil empresas, de pescadores do Ceará a engenheiros da Embraer, e da soberania econômica do país. Quem achou que a solução seria ajoelhar-se aos bilionários de Washington que se prepare para se engolir o próprio discurso.
O que a MP prevê e por que precisa ser flexível
“Isso [exportações de produtos focados aos EUA] a MP trata de três formas diferentes: as linhas de financiamento; tem a questão tributária, que vai receber um tratamento específico; e estamos mexendo também com compras governamentais”, disse Fernando Haddad. A tática faz sentido: atacar o problema em três frentes — crédito, compras públicas e tributação — amplia o leque de respostas e evita soluções únicas que beneficiem só as grandes corporações. Não vamos aceitar que os EUA arrasem o trabalho brasileiro com alíquotas protecionistas e covardes!
A sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos, que vigorou a partir de 6 de agosto, é um tapa na cara da nossa autonomia comercial — e veio com justificativas risíveis: Trump, como sempre, mistura política interna e bullying econômico, citando processos no Brasil como pretexto para sancionar empresas brasileiras. A resposta brasileira precisa ser técnica, política e popular: isso inclui financiar exportadores, ajustar tributos e abrir o imenso poder de compras do Estado para comprar de quem produz aqui.
“É uma MP, é importante dizer, que ela tem que ter uma certa flexibilidade porque nós estamos falando mais de 10 mil empresas, nós não vamos conseguir colocar na mesma moldura todo mundo, desde o pescado do Ceará até a Embraer, o pessoal de máquinas e equipamentos, o pessoal da manga do São Francisco… Não vai conseguir colocar todo mundo na MP”, disse Haddad. Precisamos de uma medida que saiba diferenciar pequenos produtores de cadeias estratégicas — e que, claro, não vire mais um instrumento para favorecer amigos do mercado.
Sabotagem da extrema direita e diplomacia em risco
O episódio da reunião cancelada com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, é um escândalo que denuncia como a extrema direita internacional se organiza para boicotar qualquer tentativa de diálogo sério do Estado brasileiro. “A militância antidiplomática dessas forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca teve conhecimento da minha fala, agiu junto a alguns assessores, e a reunião virtual que seria na quarta-feira foi desmarcada”, disse Haddad. Ou seja: Trump e seus aliados têm ativistas capazes de sabotar contatos oficiais — e isso revela o caráter estratégico do ataque.
Além do constrangimento diplomático, há um efeito político doméstico: a direita golpista tenta desestabilizar a resposta do governo para transformar cada política pública em conflito. Não vamos cair nessa armadilha! Lula acionou Haddad diretamente: “No dia 20 de julho, o presidente Lula pediu para eu ‘entrar no circuito’ e tentar marcar uma reunião com Bessent”, disse Haddad. Foi o presidente colocando a política econômica e a defesa do país no centro do tabuleiro — e mostrando que o Estado pode, e deve, responder com firmeza.
Essa resposta do governo tem que ser ampla, flexível e anti-elitista. Não é hora de privatizar solução ou deixar a troika do mercado decidir quem sobrevive; é hora de recuperar o protagonismo estatal nas compras, no crédito e na tributação para proteger empregos e cadeias produtivas inteiras.
O encontro de Lula com Geraldo Alckmin para ajustar o plano de contingência e a expectativa de uma MP adaptável até terça-feira mostram que a luta será tanto técnica quanto política. A batalha contra o tarifaço não é só contra tarifas extraterritoriais: é contra a lógica que sempre coloca interesses estrangeiros e bilionários acima do povo. E nós, do campo popular, sabemos bem por que isso não pode acontecer. Quem pensa que vai nos calar com pressão econômica e fake diplomacy ainda não viu o tamanho da resistência democrática e social que se arma no Brasil.