A investida tarifária de Washington contra produtos brasileiros não é um incidente diplomático isolado: é um ato de força política que atropela interesses nacionais e testa a paciência do governo Lula. Em plena ofensiva trumpista, com uma sobretaxa de 50% sobre centenas de itens, o Brasil vê setores-chave — do café à carne bovina — emparedados por uma política externa truculenta que quer impor perdas e enviar um recado aos países que ousam disputar mercado e soberania. Quem ganhou com isso? Certamente não os trabalhadores brasileiros nem as pequenas e médias empresas que dependem do mercado americano!
Contingência
O governo reage montando um plano de contingência. Lula chamou Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Geraldo Alckmin (MDIC) para debater medidas de apoio; o Palácio já regulamentou a Lei da Reciprocidade Econômica aprovada pelo Congresso. Enquanto isso, empresários propõem socorro via BNDES e prazos maiores para pagamentos vinculados ao comércio exterior — medidas úteis, mas insuficientes se encaradas como única resposta. Não é hora de recuar diante da intimidação econômica!
“A confirmação da aplicação da sobretaxa sobre os produtos brasileiros, ainda que com exceções, penaliza de forma significativa a indústria nacional, com impactos diretos sobre a competitividade. Não há justificativa técnica ou econômica para o aumento das tarifas, mas acreditamos que não é hora de retaliar”, afirmou em nota o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban. E ele acrescentou: “Seguimos defendendo a negociação como forma de convencer o governo americano que essa medida é uma relação de perde-perde para os dois países, não apenas para o Brasil”. É compreensível o temor do setor patronal, acostumado a perder para o capital internacional e buscar remédio nas costas do povo — mas a contenção pode ser confundida com capitulação se não vier acompanhada de alternativas estratégicas.
Conversas com líderes do BRICS
Lula foi buscar respaldo político internacional: telefonemas com Putin, Xi Jinping e Narendra Modi mostram que o Brasil aposta no multilateralismo e no diálogo entre emergentes. Enviar consultas à OMC é um gesto correto, ainda que simbólico — todo mundo sabe que a instituição tem dificuldade de coibir maus comportamentos de superpotências. Ainda assim, reforçar alianças e articular contrapontos comerciais é necessário para romper o monopólio das decisões que favorecem potências hegemônicas. O tarifaço é um ataque à capacidade produtiva e deve encontrar uma resposta coordenada entre países que não aceitam ser capachos.
Secretário de Trump cancelou conversa com Haddad
A diplomacia americana não tem sido exatamente “diplomática”. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, cancelou uma conversa agendada com Haddad, e o ministro atribuiu o cancelamento à articulação de forças de extrema-direita que atuam junto à Casa Branca. “A militância antidiplomática dessas forças de extrema-direita que atuam junto à Casa Branca teve conhecimento da minha fala, agiu junto a alguns assessores, e a reunião virtual que seria na quarta-feira foi desmarcada”, disse o ministro Fernando Haddad. Enquanto isso, encontros discretos com Marco Rubio aconteceram, mas foram mantidos em baixo tom — prova de que muita coisa se decide fora dos holofotes e que a direita transnacional atua para sabotar qualquer freio à hegemonia de mercado.
O Brasil precisa responder com firmeza e estratégia: proteger empregos, usar instrumentos estatais como o BNDES, ampliar acordos com parceiros internacionais e, quando necessário, aplicar reciprocidade econômica sem vacilar. Não podemos aceitar que bilionários e halteres do poder externo ditem as regras; é hora de fortalecer estatais, indústria e soberania nacional. E mais: quem pensa que intimidando o Brasil vai nos fazer ajoelhar-se à ortodoxia do mercado imperial que nos aguarde — resistiremos, mobilizaremos e construiremos alternativas populares reais!