Desde que Tarcísio de Freitas resolveu achar que um telefonema presidencial seria a solução milagrosa para o chamado “tarifaço”, a cena política ganhou mais uma caricatura — e Fernando Haddad, ministro da Fazenda, foi lá para desconstruí-la com a frieza técnica que falta ao governador. Em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews, Haddad não só desmontou a ideia simplista de que “um puxão de orelha” em Washington tudo resolve, como revelou uma sabotagem política que mostra o tamanho do jogo sujo que a direita e suas ramificações fazem contra o país.
O telefonema que não corta o nó
Tarcísio, em evento do agronegócio, afirmou a famigerada solução mágica: “Quantas vezes vamos ter reuniões de alto nível no Departamento de Estado? Quantas vezes vamos ter a ligação do presidente brasileiro com o presidente americano? É isso que vai fazer a diferença.” — Tarcísio de Freitas Ridículo? Sim. Ingênuo? Haddad diz que sim. O ministro desmontou a fantasia com a seriedade diplomática que o bolsonarismo e seus imitadores nunca tiveram: reuniões entre chefes de Estado exigem preparação, estratégia e, acima de tudo, diálogo institucional prévio. Não é só “discar o número” e pronto: é negociação, é mesa feita, é técnica.
“A afirmação do governador é no mínimo um pouco ingênua. Talvez uma pessoa que ainda não tenha traquejo das Relações Internacionais. Não funciona assim. Quando dois chefes de Estado se falam, existe preparação, prévia para que a reunião, o telefonema (…) resulte na melhor condição de negociação para os dois países” — Fernando Haddad
O telefone de Trump não é atalho para resolver o tarifaço! É óbvio que Tarcísio prefere a vitrine do populismo fácil à construção paciente de entendimentos diplomáticos. Essa é a mentalidade do grande capital e do entreguismo: espetáculo em vez de estratégia, foto em vez de resultado.
A sabotagem da extrema direita
E o que seria um enredo político do século 21 sem a intervenção malandra da extrema direita transnacional? Haddad revelou que uma reunião virtual com o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, que estava prevista para discutir as tarifas e seu impacto para o Brasil, foi simplesmente cancelada após a ação coordenada de grupos de direita nos Estados Unidos. Segundo o ministro, assessores na Casa Branca foram influenciados por essa militância antidiplomática.
“A militância antidiplomática dessas forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca teve conhecimento da minha fala, agiu junto a alguns assessores, e a reunião virtual que seria na quarta-feira foi desmarcada” — Fernando Haddad
A direita não perde oportunidade de sabotar o país. Não é só boato: é ação deliberada para bloquear diálogo técnico que poderia aliviar os efeitos de medidas protecionistas americanas. Enquanto isso, Tarcísio finge que resolver política externa é como cumprir uma postagem em rede social. O objetivo desses grupos é claro: impedir que o Estado brasileiro recupere instrumentos de defesa econômica e retome protagonismo, deixando a economia refém dos interesses dos bilionários e das corporações que lucram com o caos.
Haddad deixou claro também que o problema interno não é só externo — quando três ministérios acham difícil sequer sentar à mesma mesa para dialogar, o problema é institucional. Não se trata de falta de vontade do presidente, mas de resistências internas e externas articuladas por inimigos do Brasil.
O episódio mostra duas coisas: primeiro, que a diplomacia é trabalho duro e técnico, não espetáculo; segundo, que a direita e seus tentáculos continuam a agir para sabotar qualquer política que signifique autonomia e defesa do interesse nacional. Cabe ao campo progressista articular respostas à altura: fortalecer o Estado, apoiar estatais, combater privatizações e enfrentar a ofensiva dos que preferem o país como quintal do estrangeiro e do capital. Lula e o PT não são apenas alternativa eleitoral — são peças centrais na construção de um projeto que recupere a soberania nacional e proteja a população contra o tarifão, a especulação e o entreguismo. Quem duvida, que olhe para a obstrução feita por esses grupos; quem acredita, que lute e organize!