O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou nesta segunda-feira, em entrevista ao programa Estúdio i, um episódio que expõe mais uma tentativa canhestra da direita brasileira e das suas ramificações internacionais de sabotar a política externa do governo progressista. Uma reunião virtual com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, marcada para a próxima quarta-feira, foi desmarcada — e Haddad aponta dedo diretamente para a ação concertada de forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca e a influenciadores brasileiros alinhados ao bolsonarismo. Foi um ataque político disfarçado de “falta de agenda”.
Cancelamento e interferência da extrema direita
Segundo o próprio Haddad, o presidente Lula pediu que ele retomasse o contato com Bessent depois de um encontro produtivo em maio, antes das tarifas de 50% anunciadas por Trump. As tratativas recomeçaram em 21 de julho, mas, pouco depois do anúncio, a agenda foi cancelada. “A militância antidiplomática dessas forças de extrema direita que atuam junto à Casa Branca teve conhecimento da minha fala, agiu junto a alguns assessores, e a reunião virtual que seria na quarta-feira foi desmarcada” – Fernando Haddad. Haddad tentou remarcar, sem sucesso.
O campo de ação é claro: quem lucra com o caos e com a desarticulação das relações entre governos prefere ver o Brasil isolado e humilhado no balcão comercial do império. Não se trata de um erro protocolar; trata-se de política suja orchestrada para fortalecer interesses reacionários e proteger grandes monopólios. Quando antigos capachos do bolsonarismo levantam a mão para puxar fio internacional, quem perde é o povo brasileiro.
A conexão aparece em cadeia. Dias depois do anúncio do encontro, Eduardo Bolsonaro afirmou que iria inibir qualquer contato entre os dois governos. “Ele deu entrevista dizendo que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos” – Fernando Haddad. Coincidência? Haddad é taxativo: não há. “Depois da entrevista dele, de que agiria contra os interesses do país, não há como não relacionar uma coisa à outra. Não há coincidência nesse tipo de coisa” – Fernando Haddad.
Também pesa no cenário a declaração do secretário do Tesouro norte-americano nas redes sociais, criticando medidas brasileiras e fazendo acusações politizadas: “O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam direitos humanos e processos politizados, inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro” – Scott Bessent. Essa mistura de política interna brasileira com pressão externa é exatamente o terreno fértil onde a extrema direita gosta de plantar sua vingança.
Resposta do governo ao ‘tarifaço’ e a diplomacia pragmática
Haddad explicou também a resposta do governo ao chamado tarifaço de Trump: uma Medida Provisória com foco em três frentes para proteger empresas e empregos brasileiros — linhas de financiamento, compras públicas e tratamento tributário específico. “Isso [exportações de produtos focados aos EUA] a MP trata de três formas diferentes: as linhas de financiamento; tem a questão tributária, que vai receber um tratamento específico; e estamos mexendo também com compras governamentais” – Fernando Haddad. É a política estatal atuando onde o mercado falha — exatamente o que defendemos: mais Estado, menos entrega às multinacionais e aos bilionários.
Sobre o pedido do governador Tarcísio de Freitas para que Lula fale diretamente com Trump, Haddad foi cirúrgico ao apontar ingenuidade diplomática: “A afirmação do governador é no mínimo um pouco ingênua. Talvez uma pessoa que ainda não tenha traquejo das Relações Internacionais” – Fernando Haddad. Prepare-se para negociações, preparações e estratégia — não para improvisos midiáticos que agradam a jornalistas e inimigos do país.
O episódio é um alerta: a direita não vai apenas se opor nas urnas, ela tenta sabotar a política externa e econômica do país através de manobras e pressões externas. É hora de fortalecer a diplomacia popular, reforçar a unidade soberana do Estado e avançar numa resposta que proteja empregos, indústria e a capacidade do país de negociar sem subserviência. Enquanto a extrema direita trama nos bastidores, o governo precisa reagir com firmeza e a esquerda deve blindar cada passo que promova soberania e justiça social. Afinal, quem quer entregar o país aos interesses estrangeiros não merece um minuto de espaço no nosso debate público!